Como a MPB criticou a Ditadura Militar no Brasil
A Música Popular Brasileira, conhecida como MPB, foi um importante veículo de expressão da resistência à ditadura militar no Brasil. Muitas músicas da época abordam temas relacionados aos tipos de acontecimentos que ocorriam durante a ditadura e as consequências desses fatos na arte e no dia a dia da população.
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Confira alguns exemplos de críticas que foram feitas à ditadura pelos músicos da MPB, alguns títulos famosos que representam essa luta contra a censura e como esse tema pode aparecer nos vestibulares.
O que foi a Ditadura Militar no Brasil?
Antes de iniciarmos a relação entre a MPB e as músicas de protesto contra a ditadura militar, é preciso entender o que foi esse momento histórico na política brasileira.
A origem da Ditadura Militar no Brasil se deu em meio a uma crise política e social que envolveu a polarização entre grupos de esquerda e de direita no país. Em 1964, um golpe militar depôs o então presidente João Goulart e instaurou um governo autoritário que foi apoiado por setores conservadores e empresariais do país.
Os militares, liderados pelo general Castelo Branco, justificaram o golpe como uma ação para combater a ameaça comunista e garantir a segurança nacional. Durante os primeiros anos da ditadura, houve um intenso processo de perseguição e repressão política, com a prisão e exílio de líderes políticos e sindicais, além da censura à imprensa e às artes.
A ditadura militar e a censura
Durante a ditadura militar no Brasil, a censura foi uma das principais formas de repressão do regime, e as músicas eram uma das principais formas de expressão cultural visadas pela censura.
A censura de músicas funcionava de várias formas, mas em geral era exercida por órgãos governamentais responsáveis pela análise prévia das letras e das melodias, com o objetivo de evitar que as músicas transmitissem mensagens consideradas subversivas, ou contrárias aos interesses do regime.
O principal órgão responsável pela censura de músicas era o Departamento de Censura de Diversões Públicas (DCDP), criado em 1938 e subordinado ao Ministério da Justiça. O DCDP tinha a função de examinar previamente todas as obras artísticas que pudessem ser exibidas ou veiculadas publicamente, incluindo músicas, filmes, peças teatrais, programas de televisão e rádio, entre outros.
O objetivo da censura era garantir que as obras não apresentassem conteúdos considerados imorais, obscenos, indecentes, subversivos ou contrários aos interesses do regime.
As músicas eram submetidas a uma análise prévia pelo DCDP, que podia solicitar alterações ou vetar a sua veiculação, caso considerasse que a letra ou a melodia contivessem mensagens contrárias ao regime.
Os títulos musicais que eram vetados pela censura não podiam ser tocados em rádios, televisões ou shows públicos, e os artistas que insistissem em apresentá-las poderiam ser presos ou sofrer outras formas de retaliação.
A censura de músicas foi particularmente intensa durante o período da ditadura militar, que se estendeu de 1964 a 1985. Nesse período, muitas músicas da MPB foram censuradas ou proibidas de serem veiculadas, especialmente aquelas que abordavam temas que levantavam críticas ao governo autoritário.
Mesmo assim, muitos artistas resistiram à censura e encontraram formas criativas de expressar suas insatisfações e resistência ao regime, muitas vezes usando a música como forma de mobilização popular e de luta pela redemocratização do país.
Que características da Ditadura Militar a MPB criticava?
As críticas da MPB à ditadura militar eram variadas, mas geralmente abordavam temas como a censura, a tortura, a perseguição política, a repressão e a falta de liberdade de expressão e democracia. Aqui estão algumas das principais críticas da MPB à ditadura militar:
- Censura: Já citada anteriormente, a censura era uma das principais formas de repressão do regime, e muitas músicas da MPB foram censuradas e/ou proibidas de serem tocadas. As músicas que falavam diretamente da repressão ou que criticavam o regime eram particularmente visadas.
- Tortura: A tortura era uma prática comum por parte dos líderes da ditadura militar para obter informações e controlar a oposição. Muitas músicas da MPB falavam da dor e do sofrimento causados pela tortura e pediam o fim desta prática.
- Perseguição política: A ditadura militar perseguiu e prendeu muitos artistas, intelectuais e líderes políticos que se opunham ao regime. Diversos sons da MPB denunciavam a perseguição política e pediam a liberdade dos presos políticos e a volta dos que foram exilados.
- Repressão: A repressão da ditadura militar incluía a vigilância e o controle da população, a proibição de manifestações culturais e políticas e o uso da força para reprimir a oposição. Alguns títulos da MPB falavam da falta de liberdade e denunciavam os abusos de poder do regime.
- Antidemocracia: A ditadura militar era um regime autoritário que negava os direitos democráticos da população. Muitas músicas da MPB pediam a volta da democracia e o fim da ditadura.
Estas são apenas algumas das principais críticas da MPB à ditadura militar no Brasil. As músicas populares de protesto eram uma forma poderosa de resistência e mobilização popular contra o regime.
Em geral, a crítica era feita não somente às consequências geradas pela ditadura e suas características, mas ao modelo de governo como um todo, buscando pelo fim do militarismo no país e o retorno da democracia.
Músicas da MPB que criticavam a ditadura militar
Aqui estão algumas das músicas mais emblemáticas da MPB que mostram o cenário da ditadura militar no Brasil:
“Apesar de Você” – Chico Buarque:
Esta música foi lançada em 1970, no auge da repressão da ditadura militar no Brasil. A letra é uma crítica direta ao regime, e a música se tornou um hino de resistência popular.
“Cálice” – Chico Buarque e Gilberto Gil
Lançada em 1973, “Cálice” é uma música que usa metáforas religiosas para falar da opressão da ditadura. O cálice, na verdade, tratava-se de uma crítica à censura e silenciamento da época, feita pelos censores e militares, e refere-se ao imperativo “cale-se”. A música foi censurada pelo regime e só pôde ser lançada oficialmente em 1983.
“Soy Loco Por Ti, América” – Gilberto Gil – interpretada por Caetano Veloso
Esta música foi escrita em 1968, durante um período de grande agitação política no Brasil. A letra fala da luta pela liberdade e da resistência dos povos da América Latina contra o imperialismo.
“Para Não Dizer que Não Falei das Flores” – Geraldo Vandré
Esta música foi um dos maiores sucessos da época e se tornou um hino da resistência contra a ditadura. A música foi censurada e Vandré foi perseguido pelo regime.
A letra tem uma forte mensagem política e social, que fala sobre a necessidade de se lutar pela liberdade e pelos direitos do povo brasileiro.
“O Bêbado e a Equilibrista” – Aldir Blanc e João Bosco
A música, que teve versão gravada por Elis Regina, embora não mencione explicitamente a ditadura militar no Brasil, tem uma forte relação com o contexto político da época em que foi composta.
A canção foi lançada em 1979, durante o período de abertura política do regime militar, que buscava uma reconciliação nacional após anos de repressão e censura. “O Bêbado e a Equilibrista” é uma canção de esperança, que fala sobre a importância da liberdade, da justiça e da democracia para a construção de um país melhor.
A letra da música faz referência a diversas personalidades que lutaram pela democracia e pelos direitos humanos, como a cantora francesa Édith Piaf, o líder político russo Leon Trotsky e o poeta brasileiro Vinicius de Moraes.
No entanto, a música também contém uma referência velada ao exílio de muitos artistas e intelectuais brasileiros durante a ditadura militar. A letra da música diz: “Caía a tarde feito um viaduto/E um bêbado trajando luto/Me lembrou Carlitos”.
O personagem Carlitos, interpretado pelo ator e diretor Charles Chaplin, era conhecido por suas críticas ao autoritarismo e à opressão em suas obras. Ao fazer referência a Carlitos, a música sugere uma conexão entre a luta pela liberdade e os artistas que foram exilados ou perseguidos durante a ditadura militar.
Estas são apenas algumas das muitas músicas da MPB que abordam o cenário da ditadura militar no Brasil. Há muitas outras músicas e artistas que foram importantes na resistência contra o regime, e vale a pena explorar mais para entender melhor esse período da história brasileira.
Por isso veja a seguir algumas questões de vestibulares passados que mostram como a MPB pode ser citada no estudo de história.
Exercícios sobre a manifestação musical durante a Ditadura Militar
1 –
(UPE/2013) O Regime Militar Brasileiro (1964-1988) foi marcado por uma bipolarização no âmbito da política e da arte, entre os que apoiavam e os que criticavam o regime.
Dentro do segundo grupo, destacaram-se os músicos que produziram canções de protesto, algumas das quais vinham envoltas em metáforas, além de outros recursos estilísticos, no intuito de ocultar à Censura sua mensagem subliminar.
Dentre essas músicas, pode-se identificar a “Canção da despedida”, de Geraldo Vandré no seguinte trecho:
“Já vou embora, mas sei que vou voltar/ Amor não chora, se eu volto é pra ficar/ Amor não chora, que a hora é de deixar/ O amor de agora, pra sempre ele ficar.// Eu quis ficar aqui, mas não podia/ O meu caminho a ti, não conduzia/ Um rei mal coroado,/ Não queria/ O amor em seu reinado/ Pois sabia/ Não ia ser amado… ”
Com base na crítica retratada pela letra da música, é CORRETO afirmar que
a) no âmbito da arte, a crítica a esse Regime se restringiu à esfera musical.
b) aquele período parecia um conto de fadas, com estórias de reis e amores impossíveis.
c) a difícil experiência do exílio forçado foi vivenciada durante o período.
d) Geraldo Vandré costumava musicar suas desilusões amorosas.
e) a tranquilidade vivenciada pela sociedade permitia a composição de canções de amor.
2 –
(ENEM PPL 2010)
A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dentes
Tem gringo pensando que nóis é indigente
Inútil
A gente somos inútil
MOREIRA, R. Inútil, 1983 (fragmento)
O fragmento integra a letra de uma canção gravada em momento de intensa mobilização política. A canção foi censurada por estar associada:
Ao rock nacional, que sofreu limitações desde o início da ditadura militar.
A uma crítica ao regime ditatorial que, mesmo em sua fase final, impedia a escolha popular do presidente.
À falta de conteúdo relevante, pois o Estado buscava, naquele contexto, a conscientização da sociedade por meio da música.
À dominação cultural dos Estados Unidos da América sobre a sociedade brasileira, que o regime militar pretendia esconder.
À alusão a baixa escolaridade e à falta de consciência política do povo brasileiro.
3 –
O surgimento da canção de protesto em fins dos anos 1960 e seu sucesso televisivo nos Festivais de Música Popular expressava uma tendência da consciência política de parte das camadas médias urbanas brasileiras que se opunham ao fim das liberdades democráticas no regime militar. Por outro lado, o concorrente sucesso televisivo de canções de perfil bossanovista no universo da MPB, sem qualquer engajamento político, significava:
a) permanência do papel alienante das canções populares urbanas, que procuravam desviar-se dos temas políticos do momento.
b) a existência de uma vertente lírica da canção brasileira associada às autênticas criações musicais das camadas populares urbanas.
c) a invasão e a cooptação cultural norte-americana promovida pela difusão do Jazz, que se impôs ao samba de morro e produziu a Bossa Nova.
d) a variedade do espectro musical da MPB e o desdobramento da experimentação com a canção popular promovida pela Bossa Nova.
e) o sucesso deste tipo de canção entre as massas populares urbanas, que compunham a maior parte da audiência dos festivais televisivos de música brasileira.
4 –
A música Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil, foi composta no ano de 1973, no período da Ditadura Militar brasileira. Desde o título, a música apresenta uma série de questões relativas ao período pelo qual o Brasil estava passando.
No que diz respeito aos fatos retratados na letra da música, pode-se afirmar que
a) os autores falam abertamente sobre o que está acontecendo, sem uma preocupação com a censura vigente na época, pois eram músicos reconhecidos e estavam livres de tal aparato.
b) os autores falam abertamente do que está acontecendo naquele momento, mesmo sabendo que poderão sofrer consequências como censura e apreensão.
c) os autores falam de coisas singelas e ingênuas, a fim de burlar a censura vigente e aplacar a fúria dos censores.
d) os autores falam sobre a trajetória de Cristo, a fim de convencer os censores, muitos deles católicos fervorosos, de sua postura imparcial frente ao momento histórico.
e) os autores, com o intuito de burlar a censura, criam uma letra em que nada é o que parece ser, pois há referências indiretas e veladas ao que está acontecendo no país naquele momento.
5 –
Como Nossos Pais
Não quero lhe falar meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram
E o sinal está fechado prá nós
Que somos jovens
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço
O seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais
Sobre o que o Eu Poético/Lírico nos fala na Música “Como Nossos Pais”, de Belchior, reconhecida nacionalmente na voz de Elis Regina?
GABARITO
- C
- B
- D
- E
- A música é uma reflexão sobre a vida e a juventude, e como essas são influenciadas pela sociedade e pelo contexto histórico em que estão inseridas, que no momento do lançamento, tratava-se do cenário ditatorial no Brasil. A letra da música aborda a ideia de que as gerações mais jovens, mesmo em tempos diferentes, podem enfrentar os mesmos desafios e problemas que as gerações passadas enfrentaram, que no caso, seria um contexto social e político conturbado. A música também traz uma mensagem de questionamento e crítica à sociedade e ao sistema político, incentivando a busca por mudanças e por uma vida mais autêntica e significativa.
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