Deficientes conquistam mais espaço nas universidades
Matriculados no Ensino Superior aumentaram cerca de 140% entre 2001 e
2006 Embora tenha nascido com uma deformação na coluna, o estudante
Thiago Assis dos Santos, de 23 anos, nunca usou a deficiência como
barreira para não ingressar numa universidade e, por isso, pela
terceira vez, concorre a uma vaga em pedagogia da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
Para ele, o apoio familiar tem sido fundamental. “Eles sempre me ajudaram muito”, afirmou Santos. Ele acredita que neste
ano terá o nome publicado na lista de aprovados. “Estou apostando
nisso.” Santos é apenas mais um exemplo do que vem ocorrendo em todo
Brasil nos últimos anos: as pessoas com deficiência estão chegando cada
vez mais no Ensino Superior.
Prova disso são os dados do último censo
divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e elaborado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): o
número de alunos com deficiência matriculados nas universidades de todo
o País mais do que dobrou entre 2001 e 2006.
As matrículas subiram
cerca de 140%, de 5.540 em 2001 para 13.270 em 2006. Em São Paulo, a
situação foi também positiva. O Estado registrou um aumento de 20,12%,
subindo de 2.122 para 2.549 nestes cinco anos. O crescimento de
matrículas também foi maior nas instituições privadas.
Em 2001, as
universidades públicas contavam com 472 alunos com necessidades
educacionais especiais (NEE) e as privadas, 2.771. Já em 2006, as
matrículas chegaram a 6.410 nas entidades particulares contra 2.380 nas
públicas. Apesar de o Inep não ter divulgado o número de alunos com
deficiência matriculados por município, as instituições de Campinas
comprovam a evolução.
A Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUC-Campinas) conta até com o Projeto de Acessibilidade (ProAces), que
começou tímido em 1997, mas ganhou força com o passar dos anos e
oferece atualmente suporte técnico e apoio pedagógico a estudantes com
todos os tipos de deficiência ou com necessidades especiais. “Não temos
qualquer estudo que comprove o motivo desse aumento, mas notamos o
crescimento na procura e no número de matrículas ano a ano”, afirmou a
integradora acadêmica do ProAcess, Mônica Cristina Martinez de Moraes.
Em 2002, a PUC-Campinas contava com 14 alunos com deficiência e, no
passado, foram 35. “Acredito que esse aumento esteja ligado às
iniciativas do MEC para inclusão e até mesmo pelo auxílio da mídia”,
disse Mônica. Entre as atividades desenvolvidas pelo programa estão
apoio ao aluno com deficiência visual, transcrição de materiais para o
sistema braile, grafia ampliada, intérprete de língua brasileira de
sinais (libras), orientação para planejamento e execução de obras, de
forma que sejam contempladas a acessibilidade e a locomoção das pessoas
com deficiência física ou motora.
“Além disso, entrevistamos o aluno
para saber quais são suas reais necessidades e também damos assessoria
para os professores, para que ministrem as aulas da melhor forma
possível para todos”, afirmou Mônica. Além da PUC-Campinas, a maioria
das instituições de Ensino Superior de Campinas também já está
preparada ou se adaptando gradativamente para receber cada vez mais
estudantes com deficiência. A Faculdade Politécnica de Campinas
(Policamp) conta hoje com dois alunos deficientes visuais (um parcial e
outro total) matriculados em Direito.
Para facilitar o aprendizado,
foram instalados softwares específicos para ambos. No caso do aluno com
deficiência visual parcial, o programa amplia a imagem e para o outro,
lê os textos. Apesar das adaptações constantes, o diretor da Policamp,
Márcio Zuchini, acredita que o desafio ainda é grande para uma pessoa
com deficiência ingressar na faculdade.
“É muito mais difícil para os
alunos deficientes conseguirem estudar porque ainda são poucas as
escolas que oferecem suporte, embora haja leis para proporcionar isso.
Nós, da Policamp, tentamos fazer o máximo para oferecer todo o suporte
para esses alunos com o intuito de ajudá-los durante a sua formação
acadêmica, prepará-los para o mercado de trabalho e terem a aquisição
da cidadania plena”, explicou Zuchini.
Na Faculdade de Jaguariúna
(FAJ), além da presença de dois alunos com deficiência auditiva, a
instituição conta ainda com dois funcionários com deficiência física.
Toda a escola foi adaptada com rampas e banheiros especiais para
receber esses funcionários. Já os universitários contam com o apoio de
duas professoras especializadas em libras e a instituição oferece
cursos de capacitação. “Tenho limitações, mas não deixo de fazer nada”
Desde os 4 anos, Silvio Henrique Girotto, hoje com 29, convive com a
visão parcial. Devido a uma alergia a um determinado medicamento na
infância, ele passou a conviver com esse obstáculo. Formado em nutrição
e atualmente estudante do 5º ano de Direito da Policamp, Girotto
aprendeu a lidar com as dificuldades.
“Hoje em dia, estou bem mais
adaptado. Tenho as minhas limitações, mas não deixo de fazer nada.” As
maiores dificuldades foram na época de escola, principalmente pelo fato
de ainda não existir computador em sala de aula. “Antigamente, na minha
época de escola, não era comum ter computador para os alunos. Depois
que comecei a ter mais acesso, as coisas começaram a ficar bem mais
fáceis”, disse Girotto.
Porém, o universitário já tentou ir atrás de
materiais específicos e não conseguiu. “Quando entrei no curso de
Direito, liguei nas editoras para saber se elas disponibilizavam os
livros em formato de CD para o computador, mas não tinham qualquer
livro nesse formato. Ou seja, a minha dificuldade é maior, porque não
tenho como aumentar o tamanho da letra, como poderia fazer no
computador”, lamentou.
Hoje, ele se sente feliz em estar no último ano
de Direito e trabalhando na área. “Todo mundo pode conseguir o que
quiser. Os obstáculos aparecem na vida de qualquer um, basta saber
encarar e lutar pelos objetivos.”
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