Disléxicos precisam de provas adaptadas
Um estudante com dislexia não consegue ler e escrever com precisão e
fluência, habilidades altamente exigidas em exames como o Enem e o
vestibular.
Mundialmente
famoso por ter formulado a teoria da relatividade, Albert Einstein
apresentava sérios problemas de aprendizado. O alemão tinha dislexia,
um distúrbio que o impedia de ler e escrever com a mesma facilidade dos
demais estudantes. Mesmo assim, tornou-se um dos maiores gênios de
todos os tempos, graças à ajuda de um professor que percebeu nele um
grande potencial para a Física e a Matemática. Se vivesse hoje, porém,
e participasse de um exame como o vestibular ou o Enem, Einstein
provavelmente apareceria entre os últimos colocados, segundo a
psicóloga Mônica Luczynski, especialista em educação especial e
criadora de um programa de alfabetização específico para disléxicos.
“Que
adaptações os disléxicos tiveram para fazer a prova do Enem? Deveria
ter sido dado mais tempo para que eles lessem a prova e a respondessem.
Além disso, o estudante disléxico que não teve acesso a medidas
remediativas muitas vezes precisa de alguém que leia as questões para
ele”, afirma Mônica. A psicóloga diz ainda que não basta oferecer apoio
no momento do Enem ou do vestibular. Segundo ela, o acompanhamento
pedagógico deve se estender ao período da faculdade. “Algo que pode
ajudar esses alunos é a aplicação de provas orais, em vez de escritas,
além do uso de programas de computador que lêem o que está na tela”,
exemplifica.
Prova oral
A história do professor Marcelo Rossini da Cunha, que dá aulas de
Biologia no Curso Unificado, mostra como pequenas atitudes podem
estimular o aluno disléxico a seguir em frente nos estudos e conquistar
um diploma universitário. Ele conta que só descobriu que era disléxico
quando estava na faculdade. “Um professor desconfiou de que a turma
inteira havia colado em uma prova e resolveu aplicar um exame oral para
confirmar se os alunos sabiam a matéria. Eu me saí muito melhor na
segunda prova e o professor, depois de me perguntar, entre outras
coisas, se eu confundia as letras na hora de escrever, disse que eu
poderia ter dislexia”, recorda.
Marcelo procurou, então, uma psicopedagoga. Confirmado o
diagnóstico, buscou formas de superar seus problemas com a linguagem.
“Durante a faculdade, foi marcada uma prova para verificar se os alunos
sabiam a nomenclatura de algas. Todas elas começavam com ‘c’ e
terminavam com ‘fita’, e com certeza eu iria escrever os nomes de forma
errada. Por isso, pedi para fazer uma prova oral”, conta.
Desinformação
Marcelo teve o apoio dos docentes com quem conviveu, mas muitos
disléxicos sofrem com a desinformação daqueles que deveriam
incentivá-los. A psicóloga e psicopedagoga Tamara Simons, 30 anos,
lembra que ouviu comentários desrespeitosos de um professor de Inglês
quando pediu para não participar de um jogo de “stop”, em que teria de
escrever palavras no quadro, diante de toda a sala. “Ele me disse que
aquela era uma excelente oportunidade para que eu parasse de me
esconder atrás da dislexia”, diz. Noa Brykczynski, 26 anos, também
passou por situações constrangedoras. “Comecei a fazer o ensino médio
em um colégio de Santa Catarina, mas os professores não entenderam as
minhas dificuldades e, depois de quatro meses, fui convidada a me
retirar”, conta ela, que fez um curso supletivo em Curitiba e agora
planeja prestar vestibular para Turismo.
Disléxico confunde letras
A
dislexia é uma alteração genética e neurológica que provoca
dificuldades de aprendizagem nas áreas de leitura e escrita. “O
disléxico não consegue estabelecer uma relação entre os símbolos e o
som. Ele confunde letras com sons parecidos, como ‘d’ e ‘t’, e não
consegue escrever as palavras com esses símbolos de forma correta.
Também pode acontecer que ele queira falar uma palavra, mas venha
outra”, explica a psicóloga Mônica Luczynski. Segundo Maria Ângela
Nogueira Nico, coordenadora científica da Associação Brasileira de
Dislexia (ABD), os disléxicos também podem apresentar a memória
imediata prejudicada, falta de concentração e dificuldades em decorar
tabuadas e aprender outro idioma. (MC)
Vestibular da Tuiuti tem banca especial
No
vestibular da Universidade Tuiuti do Paraná, o candidato com dislexia
pode solicitar a presença de uma banca especial. “Um professor lê a
prova para o vestibulando, em uma sala especial, onde ficam apenas os
dois”, explica Ana Luíza Bender Moreira, presidente da Comissão de
Educação Inclusiva da instituição. A psicóloga Tamara Simons estudou na
Tuiuti, mas conta que não precisou de adaptações para fazer a prova.
“Não precisei disso, pois fui diagnosticada cedo e consegui trabalhar
as minhas dificuldades”, afirma. Na Universidade Federal do Paraná
(UFPR) ainda não existe a prerrogativa de prova especial para
candidatos disléxicos. (MC)
Serviço
Mais informações sobre a dislexia estão no site www.dislexia.org.br
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