Fácil de Entrar, Difícil de Sair
Muitas vagas, baixa concorrência e uma nota de
corte bem razoável. Sem dúvida, atrativos para quem quer muito entrar
na universidade, mas, ou não sabe direito o que quer fazer ou não se
preparou para enfrentar o crivo do vestibular nas carreiras mais
concorridas. Na Universidade de Brasília, são muitos os exemplos de
cursos nos quais a entrada é tranqüila, mas a saída exige sacrifícios
inesperados.
‘‘Tem muito aluno que acha que
depois de passar no vestibular a vida fica mansa’’, diz a coordenadora
de graduação do Instituto de Física da UnB, Zilda Maria de Oliveira. A
Física é um exemplo clássico de curso de fácil acesso e árdua saída. A
cada semestre, 50 alunos são admitidos no curso, incluindo todas
habilitações e turnos. Em abril próximo, quando acaba o segundo
semestre de 2001, Física deverá diplomar sete estudantes.
No Instituto de Química, entram 74
alunos a cada vestibular. Este semestre, o número de formandos, segundo
o coordenador de graduação, Marcelo Moreira Santos, será atípico: 30.
‘‘Acabou que acumulou bastante gente para se graduar este semestre.
Mas, teve anos que conseguimos formar apenas dois alunos.’’
Na área de Humanas, o melhor
exemplo é a Filosofia. O coordenador de graduação, Cláudio Reis, conta
dos anos em que a cadeira não formou ninguém. ‘‘É uma frustração muito
grande para um professor ver que, ao fim do semestre, ninguém conseguiu
se formar’’, disse. A Filosofia tem uma das menores concorrências do
vestibular: Foram 11,21 candidatos por vaga no último exame de meio de
ano.
Alguns cursos, como a Agronomia,
também tinham um perfil de formar poucas pessoas em comparação ao
número de aprovados. O coordenador do departamento, Marcelo Rezende,
entretanto, atesta que a situação mudou bastante na última década.
Antes o curso formava 12 ou 13 alunos por semestre. Quarenta
ingressavam. Agora, vão se graduar 31. ‘‘As perspectivas profissionais
do agrônomo melhoraram com a recente expansão agrícola do Centro-Oeste
e de estados como a Bahia e o Tocantins. Com isso, atraímos alunos mais
dedicados.’’
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Falta de compromisso
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Os cursos com baixa concorrência e pequena
nota de corte (ver quadro) no vestibular atraem estudantes que
colaboram para os altos índices de evasão e o baixo número de formados.
Um deles é o aluno com uma fraca formação de ensino básico, que acaba
‘‘quebrando a cabeça’’ e, muitas vezes, e desiste diante das demandas
do curso.
‘‘Nosso curso é complexo e exige do
aluno uma boa formação em Biologia, Química, Física, Política e
Economia. Quando o estudante tem problema de educação de base,
complica’’, diz o coordenador da Engenharia Florestal, Ildeu Soares
Martins.
Estudante do oitavo semestre da
Florestal, João Santana, 22, disse que procurou o curso por unir a
vontade de trabalhar com as questões da natureza com a facilidade de
ingresso. João confessa que vários dos seus contemporâneos de
vestibular abandonaram o curso. ‘‘Meu primeiro semestre foi dureza,
cheguei a reprovar em algumas disciplinas. O curso não é mole, não dá
de levar nas coxas’’, conta.
O aluno Leonardo Kuhn, 20, do
quarto semestre da Física, acha normal que os calouros se assustem
quando percebem a complexidade do curso. ‘‘No começo foi um baque.
Nosso curso é muito mais difícil que boa parte dos difíceis de
entrar’’, disse. Para Cláudio Reis, coordenador da Filosofia, os alunos
que vem para esses cursos mais complexos, sofrem bastante. ‘‘Há um
problema de adaptação. É um universo muito diferente daquilo que eles
viviam no ensino médio ou no cursinho’’, avalia.
O estudante Hugo Cuoco, 24, é um
dos seis formandos de Filosofia neste semestre e é taxativo ao dizer
que entrou no curso porque gostava da disciplina desde o ensino médio.
‘‘Não entrei porque era fácil. Mas, tem gente que faz isso’’, afirmou.
Para Hugo, o curso não o surpreendeu devido às complexidades. ‘‘Era
mais ou menos o que eu imaginava. Eu gosto do curso, até porque eu
sabia que não me daria uma grande perspectiva de emprego. Eu quero ser
professor mesmo de ensino médio’’,
As deficiências e indecisões de
parte dos alunos que vão parar em Física ou Filosofia, por exemplo,
além de alta evasão e poucos formandos, levam a uma média de maior de
tempo para formar. Na Química, o tempo mínimo é de três anos e meio.
Mas, segundo o coordenador Marcelo Moreira, a maioria dos alunos se
forma em quatro anos e meio ou cinco anos. ‘‘São poucos os que
conseguem se formar no tempo mínimo (cinco anos) na Florestal’’,
afirmou Ildeu Soares Martins.
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