Gripe
A gripe costuma ser uma doença bastante comum e simples. Nós pegamos gripe várias vezes ao longo de nossa
vida, às vezes até mais de uma por ano. Mas o que muita gente não sabe
é que a gripe, apesar de ser considerada “simples”, é uma das mais
perigosas viroses humanas! Vamos entender o porquê disso?
O Vírus:
A gripe é causada por um vírus chamado de “Influenza“. Trata-se de um vírus de RNA de fita simples, envolvido por uma capa protéica helicoidal englobada por um envelope lipoprotéico. Traduzindo: em vez de possuir DNA em seu interior, como a maioria dos vírus, ele apresenta um filamento único de RNA. Tal fato lhe confere uma terrível propriedade: ele se torna um vírus mutante. Enquanto o DNA possui uma grande estabilidade, o RNA
sofre mutações facilmente. Por isso, esses vírus estão sempre se
“transformando”, o que dificulta o nosso organismo de combatê-los. Para
entender melhor: Se você é infectado por um vírus Influenza
do tipo “X”, ao combatê-lo, você adquire imunidade contra esse vírus do
tipo “X”. Mas se esse vírus sofre uma mutação e vira “Y”, o seu
organismo não mais o reconhece e você adquire novamente a doença.
Entendem o porquê de pegarmos tantas gripes ao longo da vida? Cada
gripe é única! Nunca pegamos duas vezes a mesma gripe…
Existem 4 tipos principais de vírus Influenza: A, B, C e Thogotovírus. Os vírus são identificados pelas glicoproteínas que apresentam em seus envelopes lipídicos. Existem 2 tipos de glicoproteínas: as Hemaglutininas (HA) e as Neuraminidases (NA). O vírus do tipo A, por exemplo, tem 16 subtipos de HA e 9 subtipos de NA. Atualmente
apenas os subtipos H1 e H3 e N1 e N2 estão circulando em humanos. Há
outros subtipos circulando na natureza em animais, como aves e
mamíferos.
Esquema mostrando a estrutura de um vírus Influenza. O RNA fica no centro, envolvido por um capsídeo protéico (Capsid), e em seguida por um envelope lipoporotéico (lipid envelop). Observem ainda as glicoproteínas hemaglutininas e neuraminidases.
As Vacinas:
Não
é possível colocar todos os subtipos de vírus numa vacina. Elas são
normalmente fabricadas com os vírus que tiveram maior circulação no ano
anterior. No caso do Brasil, os que tiveram maior circulação no
Hemisfério Sul no ano anterior. As amostras incluídas nas vacinas são
feitas 2 vezes por ano pela OMS: uma em fevereiro para as vacinas de
inverno no hemisfério norte, e outra em setembro para as vacinas de
inverno no hemisfério sul. As vacinações são feitas no período de
inverno, pois é quando a população passa mais tempo em ambientes
fechados, por causa do frio, aumentando a transmissão do vírus de uma
pessoa a outra. A vacina contra gripe obrigatória em idosos aqui no
Brasil se deve ao fato de que nesta idade há um risco maior da gripe
evoluir para pneumonia.
Epidemias:
As epidemias de gripe ocorrem quase que anualmente. Normalmente elas surgem na Ásia, chegam à Europa em cerca de 6 meses, demoram
mais uns 6 a 9 meses para chegar nos EUA e mais vários meses para
atingir o Brasil. Conforme a população vai se tornando imunizada, o
subtipo viral
responsável pela epidemia vai diminuindo sua ocorrência. É interessante
notar que um dos últimos lugares a ser atingido por uma epidemia é
justamente o Brasil, o que nos dá a vantagem estratégica de imunizar a
população com antecedência através de campanhas de vacinação.
Gripe Espanhola:
O
grande perigo da gripe, como mencionado, está em sua capacidade de
mutação. De vez em quando, uma dessas mutações é capaz de gerar um
subtipo letal do vírus Influenza. Foi o caso da famosa “Gripe Espanhol” que provocou uma pandemia (epidemia mundial) nos anos de 1918-1919, ao se espalhar
durante a 1ª Guerra Mundial. Calcula-se que metade da população mundial
foi infectada. Registrou-se algo em torno dos 20 a 40 milhões de mortos
no mundo todo em decorrência desta gripe, fazendo dela a mais terrível epidemia da história da humanidade. O vírus da gripe espanhola é do tipo H1N1 (hemaglutinina 1 e neuraminidase também 1).
Fotografia tirada em 1918, mostrando vítimas da Gripe Espanhola.
Gripe Aviária:
Há cerca de uns 3 anos atrás começamos a ouvir falar na “Gripe Aviária” que atingiu o sudeste asiático. As notícias cessaram, mas o vírus provavelmente continua em circulação. A gripe aviária
tem esse nome por atingir basicamente aves como patos, galinhas, etc.
Entretanto, apesar de ser um vírus de aves, há sempre a possibilidade
de, numa das mutações do vírus, ele começar a infectar humanos. E foi
justamente o que aconteceu em 2005: humanos foram infectados com esse
vírus na Ásia. O grande risco de uma infecção como essa é que,
primeiro, os seres humanos não tiveram ainda contato
com esse subtipo, favorecendo uma epidemia, e segundo, que esse
subtipo, o H5N1, é tão letal quanto o da antiga gripe espanhola, H1N1.
E o pior de tudo é que, por ser carregado por aves, eles podem atingir
o globo inteiro rapidamente através de aves migratórias como os gansos. Entendem o perigo dessa gripe?
Mapa mostrando as regiões atingidas pela Gripe Aviária.
Os
especialistas continuam a estudar os tipos de gripe e a buscar vacinas
contra elas. Os preparativos para uma nova epidemia mundial como a de
1918 continuam. Há quem diga que não é uma questão de “se acontecer”,
mas de “quando acontecer”, pois considera-se certa a vinda de uma nova
epidemia dentro de poucos anos. Só esperamos que até lá haja vacinas
suficientes para imunizar a maior parte da população, salvando assim
milhões, ou quem sabe bilhões, de vidas…
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