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OS DOIS EXTREMOS …

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Afonso era o rei do fundão festivo, um garotão de 18 anos, cheio de energia, muito alegre e bagunceiro. Sentava-se na última fileira da sala de aula do cursinho, tirava sarro dos professores e dos CDFs que se sentavam na frente. Não estava nem aí com o vestibular.

A família nada cobrava dele e ele, por sua vez, não fazia questão alguma de entrar numa boa faculdade este ano. Aliás, ele sequer sabia ao certo o que fazer da vida. O importante era fazer farra durante as aulas, sair com os amigos, namorar uma bela loira que também pertencia ao fundão festivo, jogar futebol no fim de tarde…

O rapaz pretendia ter uma vida calma, sem grandes aspirações e sem fazer grandes esforços, porque não gostava de estudar. Para ele, o que contava era prestar vestibular para uma carreira pouco concorrida, que também exigisse pouco esforço para formar-se. O pai e a mãe nada cobravam dele e, se ele não passasse, ficaria mais um ano curtindo o seu vidão, sendo o herói do fundão festivo, jogando futebol com os amigos, saindo com eles e sua namorada…

Ao contrário de Afonso, Selma era uma pilha de nervos. Era uma menina muito inteligente e esforçada que estudava catorze horas por dia, pouco saía de casa, vivia rachando, não assistia à televisão, não tinha namorado – aliás, para que perder tempo com uma tolice destas? O importante é entrar numa excelente faculdade pública de Medicina extremamente concorrida e aprimorar o cérebro e os conhecimentos cada vez mais…

Vivia para estudar e estudava para viver. Exercia com muito empenho a profissão de estudante e era uma enciclopédia ambulante. Para sua família, a maior bênção dos céus era ter uma filha médica. Selma gostava de desafios e somente se sentia feliz quando esquentava a cabeça. Nunca estava calma, ficava com raiva quando as antigas amigas a convidavam para sair e as criticava silenciosamente por nunca pensarem no futuro de maneira séria e por pensarem apenas nas conveniências menores do presente.

Os companheiros inseparáveis de Selma eram os livros. Ao invés de conversar durante os intervalos das aulas, tratava de estudar. Sua família não mais recebia visitas em casa para não incomodar a filha. A pobre menina não tinha mais tempo de fazer ginástica e engordara dez quilos desde o início do ano… Também pudera! Lendo e comendo o tempo todo…

Sentia muita raiva de Afonso, devido à fuzarca que ele fazia durante a aula. Por que aquele bobo alegre não era expulso do cursinho? O que ele iria fazer na vida? Puxar carroça? Por que incomodava os que queriam estudar a sério? Será que os pais dele não fazem cobranças como os meus? E Selma começou a recordar-se de como seu pai e sua mãe gostavam de ver seu boletim no colégio recheado de notas dez… Ah, como eles ficavam felizes de mostrar o meu sucesso junto aos outros adultos…

E, se por acaso, eu agora não conseguir passar naquela disputada faculdade pública de medicina? Meu Deus do céu, o mundo virá abaixo! Eu vivo apenas para estudar, parasito financeiramente os meus pais, eles querem que eu seja uma ótima médica… Eu tenho de passar de qualquer jeito! Vou estudar mais ainda! Engordei dez quilos, mas que se dane a minha forma física! Onde é que vou arrumar tempo para fazer ginástica? O importante é entrar na universidade! Não é à toa que o Afonso está em ótima forma física: fica vadiando o dia inteiro, jogando futebol todo final de tarde…

Conforme pudemos ver, Afonso e Selma são dois casos extremos. Um não está nem aí para o vestibular, encarando tudo até com uma certa displicência, e a outra mata-se de estudar e sente-se na obrigação de passar numa carreira que talvez não queira de fato porque é muito cobrada pela família. Estes dois pólos são péssimos e levam ao fracasso no vestibular. O ideal é colocar Afonso e Selma num liqüidificador e misturá-los bem.

Como os romanos diziam, a virtude encontra-se no meio termo. O vestibulando deve, sim, preocupar-se com o seu futuro, mas numa boa, sem cobranças. Deve, de vez em quando, passear com os amigos no shopping center, viajar, namorar, fazer um exercício físico, tudo de maneira equilibrada. Mas deve também estudar. Há que prevalecer o bom senso e perceber que há hora para tudo. E apenas fazer o melhor que puder na hora da prova.

Quanto à escolha profissional, notamos que o ideal é guiar-se não exatamente pelo que a família quer que você faça, mas sim pelo que você NÃO DESEJA fazer. Nas eleições, antes de votar num candidato, primeiramente analisamos todos os concorrentes e logo concluímos que não queremos votar na maioria deles. E, assim, tentamos votar no melhor do grupo de candidatos não-excluídos. De maneira similar, devemos pensar profundamente e eliminar todas as carreiras que nos causam desconforto ou até repugnância. Com as opções indesejadas eliminadas, fica muito, mas muito mais fácil decidir-se pelo que de fato queremos. E se ficarmos em dúvida entre duas ocupações, por que não tentar combiná-las, fazendo um pouco de cada?

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