Prepare-se Também para a Vida
A escolha profissional é uma das decisões mais
importantes da nossa Vida. Acompanho isso há quase de trinta anos,
quando conheci o Régis, que na época era professor do Curso
pré-vestibular Franklin Delano Roosevelt, da Faculdade de Filosofia da
UFRGS.
Ele professor, eu aluna, me preparava para o vestibular de
Arquitetura. Anos depois nos casamos e construímos uma família. Ele
continua Professor até hoje, eu exerci a Arquitetura até o dia 20 de
maio de 1995, quando recolhi meu filho Thiago do asfalto. Desde lá,
tenho dedicado a minha vida para que outros pais não tenham que passar
pelo que passei: ver sonhos e projetos interrompidos nas ruas e
avenidas brasileiras.
Meu filho Thiago
estava preparando-se para o vestibular, era aluno do pai (Régis) no
cursinho. Ele, assim como milhares de jovens, tentava uma vaga na UFRGS.
Lembro,
como se fosse hoje, que sua primeira escolha era Medicina, só que após
alguns dias de cursinho ele chegou em casa e falou: ”Não vou mais fazer
Medicina, aqueles caras parecem uns Zumbis, com olheiras, e só estudam
o tempo todo. Vou fazer Direito e tentar a carreira de juiz”. E assim
são muitos jovens.
A Carolina, minha
filha, pensava fazer Psicologia, e agora está feliz prestes a se formar
em Administração. Na verdade, sempre achei que a escolha de uma
profissão é uma decisão muito séria para ser tomada aos 16 e 17 anos de
idade.
Não sei se o Thiago teria cursado
Direito, sequer saberei se ele conseguiria passar no vestibular, pois
na madrugada fria do dia 20 de maio de 1995 ele embarcou em uma carona
sem volta.
O vestibular para ele era uma
grande preocupação, tanto que mexendo em suas coisas, encontrei um
texto escrito por ele, em que falava sobre “o caminho a seguir”, suas
preocupações com o vestibular e a carreira.
O
Thiago tinha completado 18 anos, uma semana antes do acidente, ele
estava vivendo este período onde temos que tomar decisões que vamos
levar para o resto da vida. Junto com o vestibular, estava se
preparando para tirar a Carteira de Motorista. Já tínhamos até enviado
a Gurgel, que era um carro da família, para a reforma, a fim de
presenteá-lo com ele. O carro não tinha muita potência. Como pais, nos
preocupávamos com sua segurança. A Gurgel serve hoje de cenário para o
Projeto “Contadores de Histórias” desenvolvido para educar crianças em
idade pré-escolar e foi Doado à Fundação Thiago de Moraes Gonzaga.
Junto
com a decisão de escolher uma profissão, vem à primeira Carteira de
Motorista, o primeiro carro, muitas vezes presenteado pelos pais como
recompensa pelo sucesso no vestibular, vêm muitas decisões importantes
a tomar.
O Thiago não estava sozinho no
acidente, na carona como ele havia o jovem Rodrigo, de 17 anos, que
cursava Direito. Rodrigo partiu ainda no primeiro semestre da
faculdade.
Muitas são as histórias de
jovens universitários, calouros, veteranos e formandos que não
conseguem completar sua trajetória vitimados pelas tragédias do
trânsito brasileiro.
A decisão de não
beber quando dirigir, pegar carona com alguém de cara limpa, tirar o pé
do acelerador, usar o cinto de segurança, pedir para o amigo ir mais
devagar, é tão ou mais importante quanto à do curso a escolher. Muitos
projetos ficam inacabados por esta decisão.
Devemos
fazer uma reflexão sobre o assunto, pois nem sempre a pessoa que é
vocacionada para ser Médico tem o mesmo brilhantismo na condução de um
veículo. Médico, Engenheiro, Advogado, Professor, também briga no
trânsito, desfere palavrões a quem respeita o limite de velocidade a
sua frente, dirige de forma perigosa e irresponsável. Nem todos que se
preparam para uma profissão preparam-se também para a VIDA.
Nesta
época de Vestibular é preciso que todos pensem muito nisso. Nós país,
que muitas vezes esperamos que os jovens tomem uma decisão quanto à
profissão a seguir muitas vezes nos surpreendemos quando eles decidem
que vão se casar por acharmos que são muitos jovens. Por outro lado,
respondemos com um grande espanto: como não decidiu? Quando há dúvida
na escolha do curso.
Presentear com um
carro o sucesso no vestibular é outra atitude a ser avaliada. Será que
o futuro “Doutor” possui no trânsito a mesma responsabilidade que no
estudo?
Nós, da Fundação Thiago de Moraes
Gonzaga, desejamos ver os jovens nos listões de aprovados do vestibular
da UFRGS, como campeões de futebol, vôlei, tênis, como profissionais
respeitados e bem sucedidos. Para isso é preciso tomar decisões
importantes como: nunca beber quando for dirigir, não pegar carona com
alguém que bebeu, ou que age com imprudência no trânsito, mesmo que
esse alguém seja seu amigo ou um membro da família. Não permita que as
pessoas de quem você gosta cometam essa imprudência, que pode custar a
sua vida e a de outras pessoas.
Evitar os
acidentes de trânsito deveria ser um compromisso de todos, não só nos
feriados, mas todos os dias. Esse objetivo deverá estar presente quando
saímos para nos divertir, quando levamos “as crianças” na festa, quando
nos deslocamos para o trabalho, para a escola, quando viajamos e até
quando saímos para festejar a aprovação no vestibular.
“Não queremos comover a sociedade; não desejamos que ela tenha pena
daqueles, que como nós, perderam alguém que muito amava nesta guerra do
trânsito. Queremos é que ela reaja e que tenha dignidade de assumir sua
parte na mudança desta situação.”
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