RPG: como o jogo de interpretação pode auxiliar nos estudos
Você já ouviu falar no RPG? O estilo de jogo ficou muito famoso com a chegada da série Stranger Things, onde o principal quarteto de amigos do seriado se reunia para jogar um famoso jogo do estilo RPG, o Dungeons & Dragons.
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Mesmo com o empurrãozinho da série para que o RPG voltasse aos assuntos mais comentados, o estilo de jogatina já tem fãs pelo mundo todo há muitas décadas. Inclusive, já passou até por estudos de como pode ser inserido na educação.
Já pensou em estudar enquanto faz parte de uma campanha de RPG?
Vamos entender mais a fundo sobre o que é esse formato de jogo e como ele pode ser inserido para auxiliar nos estudos e mesmo ser utilizado como um entretenimento que trabalha o raciocínio lógico.
O que é RPG?
O RPG (Role-Playing Game, traduzindo: “Jogo de Interpretação de Papéis”) surgiu nos Estados Unidos da América por volta de 1974, com a criação do jogo já citado, “Dungeons & Dragons”, por David Arneson e Gary Gygax. Que, neste caso, é um RPG de fantasia medieval.
Ele é um tipo de jogo onde os jogadores assumem papéis fictícios e criam histórias juntos. Geralmente, um jogador é escolhido como “mestre do jogo” ou o “game master”. Ele é o responsável por conduzir a história e definir os desafios que os outros jogadores terão que enfrentar.
Cada jogador cria e controla um personagem, atribuindo-lhe habilidades, características e uma história de fundo. O objetivo do jogo é cooperar para superar os desafios e avançar na história. O mais comum é que os jogadores utilizem dados para determinar os resultados das ações dos personagens e seguir a história.
O RPG pode ser jogado de várias maneiras diferentes, desde jogos de mesa com miniaturas e mapas, até jogos de vídeo game em mundo aberto. Em alguns casos, é possível até mesmo somente acompanhar uma campanha, assistindo-a ou ouvindo – como no caso de podcasts.
Alguns jogos de RPG são baseados em sistemas de regras específicos, enquanto outros são mais livres e permitem mais improvisação por parte dos jogadores.
O RPG é um gênero muito popular em todo o mundo e tem sido uma forma de entretenimento que permite que os jogadores mergulhem em mundos imaginários e explorem suas próprias histórias.
Até por isso, e essa vastidão de possibilidades, o RPG começou a ser visualizado como uma forma de aprender e ensinar, especialmente crianças. Mas pessoas de todas as idades podem jogar RPG e inclusive, se aprimorar com ele.
Inclusive, muitos brasileiros já jogam e consomem RPG como forma de entretenimento. Muitos criadores de conteúdo já fizeram campanhas de diferentes jogos de RPG e até mesmo criaram seus mundos dentro da dinâmica proposta pelo tipo de jogo.
Vamos ver alguns:
Campanhas de RPG famosas no Brasil
Nerdcast RPG – Jovem Nerd
O Nerdcast é um dos principais podcasts do Brasil, criado em 2006 e apresentado por Alexandre Ottoni, conhecido como “Jovem Nerd” e Deive Pazos, o “Azaghal”.
A partir de 2011, os apresentadores reuniram amigos para iniciar campanhas de RPG, que ficaram tão famosas a ponto de uma delas arrecadar mais de R$7 milhões em uma campanha de financiamento coletivo – que virou a maior do Brasil.
Dessa forma o “Nerdcast RPG” se tornou uma edição recorrente, e o grupo já finalizou três campanhas: uma com tema medieval, “Crônicas de Ghanor” baseada no universo Dungeons & Dragons, outra com temática cyberpunk, com regras adaptadas de Star Wars D20, e uma terceira baseada na obra de H. P. Lovecraft, com o tema Call of Cthulhu.
Com uma legião de fãs, o podcast aborda diferentes universos e trabalha diversos tipos de inteligências, além da interação entre os jogadores.
Ordem Paranormal – Rafael Lange (Cellbit)
O universo de Ordem paranormal surgiu em 2020, e foi idealizado pelo Youtuber Cellbit, pseudônimo de Rafael Lange. Ele começou originalmente com campanhas de RPG de mesa em transmissões ao vivo por streaming.
Foram várias temporadas realizadas, diferentes youtubers e criadores de conteúdo participando como jogadores e criando personagens que cativaram o público, rendendo muita aclamação, artes de fãs, criação de teorias, entre outros.
Hoje o universo do RPG já conta com um livro de regras lançado, spin-offs da trama original, uma linha de roupas, e até um jogo em fase final de produção, que por sinal, também recebeu um grande apoio por financiamento coletivo: mais de R$4 milhões arrecadados, de uma meta inicial de R$500 mil.
A Lenda do Herói – Castro Brothers e Dumativa
O jogo lançado em 2016, reúne RPG e música. Uma aventura em plataforma, com uma campanha desenvolvida para seguir os comandos do jogador e interagir com ele nas fases através da música de fundo – muito bem-humoradas, por sinal.
Em 2022, uma continuação do jogo foi anunciada, contando com dubladores conhecidos pelo público, como o youtuber Lucas Vinícius do canal Inutilismo. A saga é famosa na internet e o jogo também contou com muitos participantes e colaboradores em campanha de arrecadação.
O que dizem os estudos sobre o RPG na educação?
Agora que já entendemos melhor o que é o RPG e alguns exemplos práticos de como o estilo de jogo pode aparecer, vamos finalmente ver o que alguns especialistas falam sobre o uso do jogo no aprendizado.
Para começar, a ideia da maioria dos projetos que estudam o RPG em sala de aula, é tentar verificar com os alunos ultrapassam os desafios, se isso os estimula nos estudos, e se é uma opção viável para o ensino.
Em seu artigo, “O RPG como estratégia de ensino: uma proposta para o ensino de profissões (2014)”, a professora Elizete de Aparecida Toledo explica o que o uso do RPG na aprendizagem pode trazer como resultado na vida dos alunos, indo além de somente aprender um novo conteúdo:
“Ao se utilizar o RPG têm-se como proposta favorecer o aprendizado através do jogo e este com papel de narração interativa, uma vez que os alunos assumem papéis de personagens de uma determinada profissão, vivenciando de certa forma tais personagens, criando uma mini realidade social, vivendo situações profissionais como se estivesse acontecendo naquele exato momento (…)”
Ou seja, os alunos podem até mesmo escolher áreas com as quais se identificam, criar personagens que fazem sentido e que tenham pontos fortes que façam parte de sua personalidade.
Além disso, o RPG também é um aliado no desenvolvimento cognitivo e na tomada de decisões individuais e em grupo. A professora Elizete ainda afirma que “o RPG por si só estimula um universo, no qual, por meio de suas ações, situações e riscos, cada pessoa exercita a função cognição como um todo. (…)”
Ela explica que é muito importante existir essa interação social em sala, e que é papel do professor “realizar a ligação entre aquilo que o aluno sabe com uma linguagem científica e ampliar seu conhecimento de modo a integrá-lo na história e na sociedade.”
Outro estudo que concluiu que há a possibilidade de o RPG estimular algumas habilidades e o sistema cognitivo foi O ROLE PLAYING GAME (RPG) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO (FERREIRACOSTA, LIMA, RODRIGUES, GALHARDO, 2006 p. 110).
No artigo, os autores apontam uma experiência com alunos de ensino fundamental e médio e após exporem os resultados, defendem que o uso do RPG tem grande potencial para o ensino.
“A utilização do RPG no ambiente escolar é um novo recurso didático que pode se mostrar interessante tanto para o aluno, que terá um novo meio de aquisição de informações, quanto para o professor, que poderá contar com uma estratégia a mais para enriquecer suas práticas visando a melhoria do processo de ensino-aprendizagem”, concluem os autores.
Apesar de a maioria dos estudos acima indicar o RPG como uma ferramenta didática para alunos de ensino básico e fundamental, todo tipo de pessoa, de qualquer faixa etária, estudante ou não, pode usar o RPG como forma de aprender.
Um exemplo é já desenvolver a campanha e o universo do jogo com os objetivos que você e seu grupo desejam trabalhar. Digamos que você deseja desenvolver seu inglês: por que não convidar os amigos para uma campanha imersiva, onde só podem falar esse idioma? Há um mundo de possibilidades!
Benefícios do RPG na educação
Vamos ver mais a fundo outros benefícios do uso do RPG como forma de ensinar e aprender. Todos esses possíveis resultados, independem de idade, mas quanto mais cedo aplicado, mais facilmente podem trazer bons frutos aos jogadores – e alunos.
Ensina a seguir regras
Ao jogar um RPG, os jogadores precisam seguir as regras estabelecidas pelo “mestre do jogo” ou pelo sistema de regras específico do jogo. Essas regras ajudam a estabelecer um ambiente equilibrado e justo para todos os jogadores, além de fornecer uma estrutura para o jogo.
Além disso, o RPG também ensina os jogadores a seguir regras sociais e comportamentais. Os jogadores precisam respeitar os outros jogadores e seus personagens, além de tomar suas próprias decisões dentro dos limites estabelecidos pelo jogo.
Isso pode ajudar a desenvolver habilidades sociais importantes, como a empatia, a cooperação e a compreensão das expectativas sociais.
Desenvolve a interdisciplinaridade
O RPG pode ser uma ferramenta educativa interdisciplinar valiosa. Por exemplo, ao criar um jogo de RPG baseado em um livro, os alunos precisam entender os personagens, a história, o cenário e os temas do livro para poder jogar. Isso pode ajudar a desenvolver habilidades de leitura, análise literária e compreensão de texto.
Ou no caso de um RPG baseado em um evento histórico, os alunos precisam entender o contexto histórico, a cultura, a política e a economia da época. Isso pode ajudá-los a desenvolver habilidades de análise histórica, pensamento crítico e compreensão de eventos complexos.
Existem diversas habilidades que podem ser ensinadas pelo RPG, como matemática, ciências, tecnologia. Em resumo, o RPG pode sim ser usado para trabalhar a interdisciplinaridade, criando uma experiência de aprendizado rica e complexa.
Ajuda na superação de desafios
O RPG é, essencialmente, um jogo de resolução de problemas, onde os jogadores precisam enfrentar desafios e obstáculos para avançar na história ou no jogo. Portanto, para superar esses dilemas, é essencial se atentar às situações e buscar soluções.
Os jogadores são incentivados a pensar de forma criativa e a procurar formas inovadoras para resolver os problemas que enfrentam. O jogo pode até mesmo ajudar os jogadores a superar desafios emocionais ou psicológicos, como a timidez, ou a falta de confiança.
Isso porque o RPG permite que os jogadores experimentem novas maneiras de ser e agir, e os ajuda a se sentir mais confiantes e seguros em suas próprias habilidades e escolhas.
Trabalha a cooperação
Uma das principais consequências visíveis ao jogar RPG é perceber que os participantes aprendem a trabalhar em equipe e a cooperar com outros jogadores, para conseguir superar desafios que podem ser muito difíceis de superar sozinhos.
Isso porque todo o conceito do jogo é feito justamente para ser jogado em conjunto, portanto, os jogadores precisam aprender a realizar estratégias em grupo, a ouvir as ideias dos outros colegas e a colaborar para atingir um objetivo comum.
Incentiva o raciocínio lógico
Uma simples partida de RPG pode ser uma grande aliada no uso do raciocínio lógico, já que o jogo exige que os jogadores pensem de forma estratégica e resolvam problemas complexos.
Ao jogar RPG, os participantes precisam analisar a situação pela qual estão passando, identificar objetivos e criar um plano para alcançá-los. Eles também precisam considerar as ações dos outros jogadores, o ambiente em que estão jogando e as possíveis consequências de suas próprias decisões.
Tudo isso, sem contar o sistema de regras, muitas vezes bastante complexo, que exige raciocínio matemático e atenção redobrada do jogador, seja ao fazer escolhas, escolher caminhos e até como dialogar. Tudo voltado para o pensamento estratégico.
Trabalha o autoconhecimento
A criação do próprio personagem, muitas vezes com personalidades distintas dos jogadores, pode fazê-los entender melhor suas próprias facetas, sentimentos e nuances.
Por exemplo, uma pessoa tímida pode ter um personagem extravagante, animado e extrovertido. Nessas situações, ele deve tomar decisões em nome desse personagem. Então ele deve pensar cuidadosamente sobre suas características, personalidade, motivações e valores ao fazer uma escolha.
Enfim, o RPG é uma ótima forma de trabalhar a reflexão, a exploração de diferentes aspectos da personalidade e o desenvolvimento de habilidades emocionais importantes dos jogadores, como o autocontrole e a autorregulação.
Por onde começar a jogar RPG de forma educativa?
Para te auxiliar a iniciar suas campanhas educativas com o RPG, trouxemos algumas sugestões que podem abrir seu olhar par vasto mundo do jogo de interpretação de papéis.
Site RPG Na Escola
O site é brasileiro e visa promover a utilização de jogos de RPG como ferramenta pedagógica no ambiente escolar. Nele são disponibilizados materiais didáticos para professores interessados em utilizar o RPG em suas aulas, como planos de aula, fichas de personagem, cenários e outros recursos.
Como ele conta com uma aba só voltada para livros dentro do tema e outra para jogos, é possível acessar e identificar algumas opções para você trabalhar em sala ou mesmo em grupos fechados.
RPG e gêneros Textuais – Sugestão da Base Nacional Comum Curricular
Este material do portal da Base Nacional Comum Curricular é uma sugestão de mesa de RPG para fazer com alunos que podem ajudar professores a trabalhar diferentes gêneros textuais.
Ele tem toda a explicação de como funciona o jogo e dicas para o docente iniciar a explicação acerca do RPG com a turma. Vale a pena dar uma olhada até pra quem quiser jogar com os amigos!
Comece sua própria campanha
Além de se guiar por alguns sites e projetos educativos que utilizam o RPG, você pode iniciar sua própria campanha, criar sua mesa, e até “mestrar” (ser o anfitrião e narrador do jogo) o grupo conforme as áreas que queiram trabalhar.
É possível escolher desde o livro de regras, até o tipo de contagem de pontos e, claro, que habilidades e tipos de matérias ou conteúdos serão trabalhados. Coloque a mão na massa e comece agora sua campanha de aprendizado com o RPG!
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