Vale a pena ser treineiro?
A ansiedade vai aumentando, o monstro vai crescendo, dá até pesadelo. E aí, cansado de só ouvir falar, tem gente que resolve ver de perto se é tudo isso mesmo. Para quem está no 3º ano, a hora de se aproximar sem muito compromisso é agora, nos vestibulares do meio do ano.
As amigas Luiza Brito, 16, e Hanna Souto, 16, resolveram ser treineiras. Luiza se inscreveu como candidata para o curso de medicina da Bahiana [a prova acontece em julho] e Hanna foi treineira no vestibular da Ucsal. Luiza estreou no processo seletivo da Ufba no ano passado, e acha que a experiência agora serve como mais um teste [e também como revisão]. “Apesar de ter os simulados na escola, só na hora do vestibular dá para sentir o nervosismo, o clima dos concorrentes. Sei que quando for pra valer não vou estar tão tranqüila, mas já deu para tirar a impressão de que vestibular é uma coisa de outro mundo”.
Hanna estava interessada em aprender a administrar o tempo da prova. “É uma experiência importante. Se eu perder, vai ser um estímulo para estudar mais, organizar melhor meu ritmo de estudo”.
Mas se o ensino médio já é tão voltado para o vestibular, será que precisa mesmo virar treineiro para saber como é a prova? Para a psicopedagoga Jozélia Abreu, os colégios e as dezenas de simulados já são suficientes para preparar os alunos. “Lá no vestibular vai treinar o quê, especificamente? Emocional se treina? Não”.
Ela diz que da mesma forma que a experiência pode deixar os estudantes mais seguros, o resultado do vestibular pode gerar acomodação ou frustração. Para Jozélia, o fundamental é que o estudante conheça suas potencialidades e características antes de decidir ser treineiro. “Para alguns, ‘sentir o clima’, como eles falam, diminui a ansiedade. Para outros, a depender do resultado, aumenta. O importante é saber que o momento do vestibular de verdade será outro. Se a pessoa já tem um certo auto-conhecimento e confiança no seu potencial, não precisa [ser treineiro]”.
O diretor do cursinho Módulo, Luis Barros, também acredita que o aluno já é treinado na própria escola. “Ser treineiro não simula o processo. No jogo, a vera, é outra condição, outro compromisso. Não há vantagem pedagógica ou psicológica em ser treineiro”.
Já para o diretor do Serviço de Seleção da Ufba, Nelson Almeida, é “interessante” que o aluno teste o vestibular antes do ‘valendo’. “O estudante pode entrar em contato com a metodologia. Só é preciso lembrar que o treineiro está sempre muito mais à vontade. Mas caso queira e tenha recursos para pagar a taxa [do vestibular], ok”.
Desde pequena – A estudante Mariana Nogueira, 17, leu uma vez na revista Veja que o primeiro lugar em medicina na USP foi treineiro desde a oitava série. “Tô atrasada”, pensou. Resolveu que no final do primeiro ano seria treineira também. Na hora da prova, ela ficou super nervosa, parecia que era pra valer mesmo. “Um monte de gente grande e eu pequenininha… Mas imaginava que era um monstro, e a verdade é que não é tão difícil assim”. Mariana não passou. Depois, no 2º ano, foi treineira de novo. Ia fazer biblioteconomia, curso menos concorrido, para ver como era a segunda fase. Mas mudou de idéia e fez matemática. Desta vez, foi aprovada. A mãe diz que por já ter passado no vestibular, a filha relaxou nos estudos, mas Mariana acha que não. “Tenho certeza de que foi uma experiência que vai me ajudar muito”. Filipe Felix Gomes, 17, participou, no ano passado como treineiro do curso de direito da Ufba. Ele diz que se saiu “razoavelmente bem”. “Na maioria dos assuntos fui bem, menos os que a gente aprende no 3º ano. Principalmente em química e física, tinha muita coisa que não tinha visto ainda”. Para ele, não vale a pena ser treineiro no 1º ano. “É cedo ainda. No final do 2º ano é legal porque você já tem base”.
Ufba excluiu opção de teste
Cada instituição tem uma maneira de lidar com os treineiros. Na Ufba, este tipo de candidato foi instituído em 1999. O treineiro podia participar das duas fases do vestibular da Ufba e recebia um “boletim de desempenho do treineiro”, comparando suas notas com as de outros treineiros e candidatos.
Mas desde 2003 não dá mais para marcar essa opção na hora de se inscrever. Hoje a única limitação do treineiro é que ele não pode se matricular, caso seja aprovado.
“Tomamos essa decisão porque nós estávamos corrigindo o vestibular duas vezes, e o número de treineiros era muito pequeno”, conta o diretor do Serviço de Seleção, Orientação e Avaliação da Ufba, Nelson Almeida.
A conseqüência é que treineiros – que não poderão ocupar a vaga – acabam “tomando o lugar”, nas duas etapas, de candidatos que poderiam se matricular, por já terem concluído o ensino médio.
A Universidade do Estado da Bahia [Uneb] também não tem opção de inscrição como treineiro [veja quadro].
RANKING – Nas instituições que mantêm a opção de teste, a maioria dos treineiros se inscreve como um candidato “normal”, para saber de fato se passaria ou não no vestibular, já que os treineiros não aparecem na lista dos aprovados.
O superintendente de graduação da Universidade Católica de Salvador [Ucsal], Helder Randam, conta que no vestibular do meio do ano da instituição é maior a presença dos alunos que ainda não concluíram o ensino médio e que houve uma queda grande no número de treineiros oficiais. “Eles querem verificar sua pontuação no ranking, saber se seriam aprovados. Hoje os treineiros representam menos de 1% dos candidatos”, diz.
Para Randam, o treinamento é uma é uma oportunidade de vivenciar o clima do concurso. “Acho que o estudante deve virar treineiro no momento em que se sentir preparado, qualificado para se auto-avaliar. Hoje os vestibulares estão mais voltados para testar capacidades do que conteúdos, então não há série ou idade mínima”, diz.
Na Escola Bahiana de Medicina, que também realiza vestibular no meio do ano, é possível se inscrever como treineiro ou candidato. O coordenador do vestibular, Gaspari Saraceno, diz que na instituição o treineiro não aparece na lista de convocados, mas pode comparar seu escore com o dos outros treineiros e outros candidatos.
Momento certo também causa discussão
Além da polêmica de ser ou não treineiro, ainda há discussão sobre o melhor momento para viver essa experiência. Luciana Oliveira, coordenadora do 3º ano do ISBA, acredita que ser treineiro é válido e que é melhor testar o vestibular no final do 2º ano. “No terceiro já tem tantos mecanismos de estresse, para quê criar mais um? É perverso. Mas ser treineiro é bom porque às vezes o imaginário constrói uma imagem que não corresponde à realidade”.
Para a professora Nadja Valente, supervisora do 3º ano no colégio Anchieta, a decisão de ser treineiro é muito particular. “Para aqueles que são muito ansiosos e estressados, não recomendo que sejam treineiros na metade do 3º ano. No segundo ano é sem compromisso, é uma chance de se familiarizar com a prova”.
De acordo com professores que conversaram com o Vestibular , quem faz a prova no final do 2º ano já deve ter visto pelo menos 80% do programa das disciplinas. Algumas matérias, como química, biologia e física, têm o programa mais extenso.
“Nestas disciplinas o aluno ainda vê muitos assuntos novos no terceiro ano”, diz Luciana.
Na Universidade Salvador [Unifacs], o maior número de treineiros é registrado no vestibular do meio do ano, por causa dos estudantes que estão na terceira série do ensino médio. No vestibular 2006.1, os treineiros representaram menos de 1% dos inscritos. Já no vestibular 2006.2, cerca de 6% dos inscritos eram treineiros.
Danilo Canguçu, 17, foi treineiro da Ufba no ano passado, quando tinha terminado o segundo ano. Ele queria ver como era a segunda fase do curso de artes cênicas, que tem provas de habilidades específicas, mas não passou. “No final das contas, foi bom não ter passado. Não ia levar o 3º ano tão a sério”.
VAGA CERTA – Ronei Catão, 21, acabou entrando na universidade com a vaga que conseguiu como treineiro. No final do 2º ano, ele fez vestibular para engenharia química na Ufba e foi aprovado.
Para sorte de Ronei, a Ufba estava em greve. Demorou tanto para ser chamado para a matrícula que deu até tempo para concluir o 3º ano.
Mas como não tinha certeza de que conseguiria ficar com a vaga, ele acabou estudando para o vestibular normalmente. Ou quase. Ter passado como treineiro acabou deixando Ronei mais “relaxado”. “Isso alterou um pouco minha rotina de estudos, acabei ficando mais relaxado e também mais confiante”.
No final do ano, ele fez vestibular novamente, desta vez para o curso de engenharia elétrica. “Já estava matriculado, mas não tinha certeza de que curso queria”, conta. Acabou estudando engenharia química, e está no sétimo semestre.
Para Ronei, é melhor ser treineiro no final do 2º ano, porque a pressão é menor. “O aluno que perde no 2º ano não fica desmotivado, porque isso seria o mais esperado.
Agora, se ele passar, pode ficar confiante demais e acabar comprometendo seus estudos.
Acho que isso depende muito do psicológico de cada um”.
Na opinião do estudante, a maior vantagem de ser treineiro é que a experiência de responder a prova ainda no ensino médio tende a deixar os estudantes menos nervosos. “O nervosismo prejudica muitos alunos bons”, avalia.
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