Videogame que ensina física
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Uma espaçonave de tamanho subatômico tem a missão de capturar
partículas, identificá-las e com elas montar estruturas atômicas em
outro planeta. Essa é parte da missão do Sprace Game ,
um jogo de computador projetado por físicos do Centro Regional de
Análise de São Paulo (Sprace) da Universidade Estadual Paulista (Unesp)
com o objetivo de transmitir conceitos de física de partículas para o
público leigo.
O desenvolvimento do videogame foi financiado pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é patrocinado pelo
Sprace, centro financiado pela FAPESP e que é ligado ao Instituto de
Física Teórica (IFT) do campus da Unesp da Barra Funda, na capital
paulista.
Na cerimônia de lançamento, realizada na manhã de segunda-feira (10),
o professor do Instituto de Física Teórica da Unesp Sérgio Ferraz
Novaes, coordenador do Sprace, contou que o jogo faz parte de um esforço
de levar aos alunos de ensino médio do país informações atuais sobre
física de partículas.
“As informações escolares sobre estrutura da matéria estão defasadas
em quase um século”, declarou Novaes através de um sistema de
vídeoconferência. O professor falou aos jornalistas a partir do Centro
Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra, Suíça, onde participa
do experimento CMS (Solenoide Múon Compacto, na sigla em inglês).
Para mostrar aos estudantes que os átomos são muito mais do que
somente prótons, nêutrons e elétrons, a equipe do IFT enviou a todas as
escolas brasileiras do ensino médio cartazes didáticos apresentando as
demais partículas subatômicas.
“Porém, os cartazes atingem somente os interessados em física,
enquanto que o game alcança muito mais jovens”, afirmou o designer do
Sprace Game, Einar Saukas, da Summa Technology+Business, empresa que
produziu o jogo. O desenvolvimento do game ficou sob a responsabilidade
da empresa Black Widow Games Brasil, com a qual Saukas também está
envolvido.
Projetado em linguagem Java, o Sprace Game consegue rodar em qualquer
computador com sistemas operacionais Windows, Linus, ou Mac. O
programador do jogo, Ulisses Bebianno de Mello, da Black Widow, explicou
à Agência FAPESP que há três versões de resolução para que até
máquinas um pouco mais antigas possam receber o jogo.
“Conseguimos rodar a versão mais básica em um Pentium 1,3Ghz com 512M
de memória RAM, acreditamos que a configuração mínima para o jogo seja
essa”, disse Mello. Por funcionar em plataformas enxutas, o Sprace Game
pode servir como ferramenta de ensino em escolas e instituições com
poucos recursos, necessitando apenas do acesso à internet. O jogo é
gratuito e pode ser acessado na página do Sprace: Sprace Game
Em busca de partículas
Ao passar pelas quatro fases do Sprace Game, o jogador tem que
capturar com sua espaçonave partículas subatômicas; levá-las a um
laboratório para que sejam identificadas; descobrir do que são formadas
as partículas compostas chamadas de hádrons e recombinar quarks para
formar prótons e nêutrons.
Com eles, o jogador consegue montar núcleos atômicos de hidrogênio e
oxigênio, a fim de produzir um recurso fundamental para a colonização do
planeta explorado, a água.
Uma das fases mais interessantes é a segunda, na qual o jogador deve
encontrar e perseguir a partícula tau e observar o seu decaimento, que é
a decomposição em outras subpartículas no fim de seu tempo de vida. São
essas subpartículas que o jogador deverá capturar. “Isso ajuda a
explicar o conceito do decaimento”, disse Saukas.
O designer revelou que um dos grandes desafios do projeto foi criar
um jogo que proporcionasse entretenimento sem perder a precisão
científica. “Não podíamos fazer um jogo somente divertido e que tivesse
incorreções científicas, nem fazer algo muito preciso e que fosse chato
de jogar”, afirmou.
O produto final foi testado e aprovado por alunos do ensino médio
participantes do Master Class: Hands on Particle Physics evento
internacional cuja etapa paulista foi realizada em fevereiro pela Unesp.
“Os estudantes tiveram duas horas para jogar, mas depois desse tempo
ainda queriam continuar jogando”, contou Saukas.
O sucesso inicial demonstra o acerto na escolha do jogo eletrônico
como mídia para divulgar a física de partículas, segundo acredita o
professor Novaes. Para ele, trata-se de conceitos intrincados e que
precisam ser repetidos para que sejam assimilados. “Filmes, livros e
quadrinhos já foram feitos com esse objetivo, mas o videogame é muito
mais eficaz nesse aspecto”, declarou o professor.
Repercussão internacional
O professor da Unesp disse que o Sprace Game já tem despertado o
interesse de outros países. Uma versão em inglês está sendo finalizada
para dar origem a traduções para outros idiomas.
Pesquisadores e divulgadores científicos da França, Áustria,
Portugal, República Tcheca e Estados Unidos entraram em contato com
Novaes para conversar sobre o jogo, além de profissionais de divulgação
científica da Comunidade Europeia.
O professor Helio Takai, do Brookhaven National Laboratory, de Upton,
nos Estados Unidos, que também participou da videoconferência do
lançamento do Sprace, afirmou que o jogo poderá reduzir a defasagem do
ensino de física de partículas que também existe naquele país.
Como no Brasil, o ensino norte-americano até o nível médio repassa
conceitos da física descobertos até o início do século 20. Desde então,
experimentos realizados em aceleradores de partículas revelaram que
prótons e nêutrons são compostos de quarks, partes ainda menores.
Além dos quarks, que se dividem em seis tipos (up, down, strange,
charm, bottom e top), também foram descobertos os léptons (elétron,
múon, tau e seus três respectivos neutrinos) e as partículas
responsáveis pelas interações forte, fraca e eletromagnética (glúon, W, Z
e fóton). Enriquecer os conhecimentos de física de estudantes do ensino
médio com essas informações mais atualizadas é o objetivo principal do
Sprace Game.
“Aqui nos Estados Unidos, as agências de pesquisa valorizam muito as
atividades educacionais. Da mesma forma, no Brasil, iniciativas como o
Sprace são uma maneira de retribuir à população os investimentos
públicos em pesquisa”, falou Takai na cerimônia de lançamento.
Novaes disse que um colega resumiu o ensino de física nesses termos:
“Um professor do século 20 ensina física do século 19 para um estudante
do século 21”. Para o professor da Unesp, o Sprace Game procura levar
informações contemporâneas para estudantes do século 21, por meio de uma
mídia moderna.
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