Aquecimento Global: Um imposto para salvar a Terra
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Uma cidade cobra taxa na conta de luz para combater a mudança climática. O exemplo pode se espalhar.
COBRANÇA
Plataforma de petróleo no campo de Sleipner, na Noruega.
A taxa de carbono tornou o projeto de captura de poluentes viável
Desde abril, os cerca de 100 mil habitantes da cidade americana de
Boulder, no Colorado, estão pagando o preço do aquecimento global. A
conta de luz ficou mais cara. A cada quilowatt-hora consumido são
acrescentados US$ 0,0022 (22 décimos de milésimos de dólar), o que dá
uma média anual de US$ 16. Com o dinheiro arrecadado, o governo oferece
consultorias para ensinar a gastar menos energia nas casas, lojas e
indústrias da cidade. O objetivo é reduzir as emissões em 19% até 2013.
Pode parecer que a população de Boulder teve um surto ecologicamente
correto. Foram os próprios moradores que escolheram pagar um imposto
para diminuir a emissão de gases causadores das mudanças climáticas.
Mas muitos especialistas em meio ambiente apostam que pagar pela
quantidade de poluentes lançados na atmosfera será uma prática comum
nos países que lideram a economia mundial. Estão em andamento as
negociações para decidir que medidas serão adotadas no período
pós-Kyoto, o protocolo que fixou metas de redução de emissões até 2012.
Ninguém se arrisca ainda a esboçar os contornos de um próximo acordo
internacional. Mas um ponto já é certo.“Estabelecer um preço para o
carbono emitido é fundamental para controlar as mudanças climáticas”,
diz Daniel Esty, diretor do Centro de Leis e Políticas Ambientais da
Universidade Yale, nos Estados Unidos.
Do ponto de vista econômico, impor uma taxa parece a melhor opção.
“É a maneira mais direta de dar si-nais às empresas de que elas têm de
reduzir as emissões”, diz o professor Emílio La Rovere, da coordenação
dos programas de pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Com o imposto, as indústrias se vêem obrigadas a
substituir suas tecnologias rapidamente para se livrar do custo extra.
Alguns países já adotam taxas de carbono, como é o caso da Noruega,
que conta com a tributação desde 1991. O imposto fez com que as
empresas petrolíferas do país adotassem projetos para diminuir a
quantidade de gases causadores do efeito estufa liberados na extração
do petróleo. “É por isso que as petrolíferas norueguesas estão entre as
que menos liberam gás carbônico por barril de petróleo extraído”, diz
Olav Kaarstad, diretor de projetos da Statoil, uma das maiores
petrolíferas do planeta.
A própria empresa só conseguiu implantar um projeto para diminuir
suas emissões por causa da taxa. Em vez de pagar o imposto por anos, os
executivos da Statoil perceberam que compensava investir em um caro
projeto para capturar e enterrar o gás carbônico liberado na extração
do petróleo. Apesar de ter causado mudanças nesse setor, a tributação
na Noruega ainda precisa ser aprimorada. Segmentos da economia
responsáveis por grande parte das emissões, como a aviação e a
indústria produtora de cimento, foram excluídos do pagamento da taxa. O
governo temia que esses setores perdessem a competitividade em relação
aos países que não a adotaram. Segundo um estudo do Departamento de
Estatísticas da Noruega, as isenções causaram uma redução de apenas 2%
nas emissões do país.
A principal dificuldade para tributar o carbono é fazer com que o
imposto seja caro a ponto de reduzir as emissões significativamente. É
preciso que as principais economias do mundo concordem em adotar esse
tipo de taxa. Nenhuma nação aceita sozinha correr o risco de tornar sua
indústria pouco competitiva. Os países em desenvolvimento se questionam
se é justo ter de contribuir para limpar a sujeira emitida no processo
de enriquecimento dos países ricos. E as nações desenvolvidas não
querem tornar seus produtos menos competitivos que os de países
emergentes, como a China, que já poluem quase tanto quanto os Estados
Unidos. “A implantação de uma taxa para combater o aquecimento global é
politicamente difícil”, afirma Werner Kornexl, especialista de meio
ambiente do Banco Mundial.
Os políticos também não querem perder a simpatia do eleitorado. “O
segredo para encorajar a adoção de uma taxa de carbono é mostrar às
pessoas que o governo não está apenas pegando o dinheiro delas”, afirma
o analista de energia Vijay Vaitheeswaran, um dos mais respeitados do
mundo. Há compensações. A idéia é diminuir a tributação em outras
áreas, como os impostos sobre salários. Um estudo da Universidade de
Aarhus, na Dinamarca, mostra que a adoção da taxa de carbono causou um
crescimento médio de 0,5% nas economias da Finlândia, Suécia,
Dinamarca, Holanda, Alemanha e do Reino Unido. “A diminuição dos
encargos sociais e o aumento da eficiência energética melhoram a
competitividade das empresas”, afirma o professor Mikael Skou Andersen,
responsável pelo estudo.
Por causa das dificuldades de implantação desse tipo de imposto,
muitos especialistas defendem a adoção de um mecanismo chamado mercado
de carbono. Na União Européia já há um modelo em funcionamento desde
2005. Nesse tipo de sistema, o governo estabelece limites de emissões
para as indústrias. Elas podem substituir suas tecnologias por outras
menos poluentes sem que tenham de investir milhões a curto prazo.
Enquanto não fazem as mudanças, elas podem comprar permissões para
poluir de outras empresas que já tenham feito adequações tecnológicas.
A principal crítica ao mercado de carbono é que o preço do crédito
varia muito em função da oferta e da procura. Dessa forma, as
companhias não teriam incentivos suficientes para fazer a substituição
tecnológica. No mercado europeu, por exemplo, o preço da tonelada de
carbono já oscilou entre 1,5 euro e 30 euros. A causa dessa variação
seria a falta de transparência desse tipo de mecanismo. Com medo de
punir as empresas a ponto de elas perderem a vantagem competitiva, os
governos distribuíram limites generosos de emissões. Existiam mais
créditos para vender que interessados em comprar.
As dificuldades enfrentadas tanto pelos países que adotaram uma taxa
de carbono quanto pelos que optaram pelo mercado mostram que conseguir
reduções significativas nas emissões não é uma questão de que tipo de
sistema escolher. Mas, sim, de um comprometimento mundial entre as
principais economias. “A mudança climática é um problema global e,
portanto, exige uma resposta global”, diz Daniel Esty, da Universidade
Yale.
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