Detentos em prisão alemã podem frequentar escola e até universidade
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Na penitenciária de Freiburg, detentos podem concluir ensino médio e
até fazer curso superior. O programa educacional é modelo de sucesso.
Devido à oferta de ensino, detentos de outras prisões tentam mudar para
Freiburg.
A
penitenciária de Freiburg, no sul da Alemanha, não está entre as
maiores do estado de Baden-Württemberg, mas entre as mais antigas.
Arquitetonicamente, o edifício da prisão construída há 100 anos
inspirou-se nos exemplos de penitenciárias norte-americanas. Porém em
outros aspectos a penitenciária alemã percorre, há vários anos,
caminhos bem diferentes daqueles seguidos pelos EUA.
Os
presidiários cujas penas variam de 15 meses à prisão perpétua podem
escolher entre o trabalho ou o estudo remunerado. Quem quiser concluir
o ensino fundamental (Hauptschule ou Realschule) ou até mesmo prestar o Abitur
(certificado de conclusão do ensino médio que dá acesso ao ensino
superior) pode esperar não somente ser libertado mais cedo, mas também
melhores chances para um novo começo de vida após a prisão.
A
experiência mostra que quem termina ali sua formação escolar apresenta
uma taxa de reincidência 15% menor do que a média. Atrás desses números
estão destinos humanos, como também o benefício para a sociedade.
Thomas Rösch, diretor da penitenciária, explica que “o encarceramento
por si só também não serve nada ao cidadão lá fora. No contexto do
regime penitenciário, deve-se tentar assegurar chances. A maioria dos
detentos que levamos à escola também conclui o curso com sucesso. Ou
seja, temos uma quota de aprovação bem superior a 90%”.
Respeito pelos direitos alheios
Os
cursos são dados em turmas pequenas. Durante as aulas, os prisioneiros
podem se movimentar livremente. E recebem o salário normal de prisão –
cerca de 120 euros mensais – como se estivessem trabalhando. Os
detentos podem aprender línguas, participar de cursos de integração ou
até mesmo, dependendo do grau de escolaridade, inscrever-se em um curso
superior a distância na Universidade de Hagen.
Este é
o caso de Vitali. O imigrante descendente de alemães do Cazaquistão, de
28 anos, cumpre pena de oito anos de reclusão em Freiburg. Seu objetivo
é pelo menos o título de Bachelor na área de informática aplicada à economia.
“Com um B.A. [Bachelor of Arts]
e três línguas, pode-se ir mais longe neste mundo”, disse Vitali com
autoconfiança, acrescentando filosoficamente que “educação é a arte de
receber aquilo que é desejado sem ferir os direitos alheios. Para tal,
também são necessárias paciência e concentração”.
No
entanto, isso é o que faltou à maioria dos jovens que se tornaram
criminosos. Por isso, na prisão, também se aprende como objetivos mais
elevados de vida podem ser alcançados através da paciência e
perseverança.
Os
cerca de 20 estudantes universitários que estudam atualmente na
penitenciária de Freiburg têm acesso online à Universidade Aberta de
Hagen através de um “túnel” dentro da internet. Ou seja, na web, eles
só podem se comunicar com seu estabelecimento educacional. As provas
são feitas sob supervisão dos professores da prisão e enviadas
posteriormente a Hagen. Durante o estudo, a compra de livros e de
literatura especializada é financiada pela penitenciária.
Diminuição da violência
Um
comitê de admissão decide se um detento deve frequentar um centro de
formação escolar ou se inscrever em um curso superior a distância.
Psicólogos, funcionários do serviço penitenciário e professores fazem
parte da comissão. A professora de matemática Annika Kaindl é um deles.
Como
todos os outros membros do corpo docente, a professora de 37 anos leva
consigo um transmissor com um botão de emergência que, todavia, ainda
não teve que apertar. “Uma vez, não sei por que, dois detentos
avançaram um sobre o outro. Mas eu não me senti nada ameaçada. Pelo
contrário, senti-me protegida pelos outros alunos que cuidaram de mim”,
afirmou Kaindl. O diretor Thomas Rösch faz outra observação: as aulas
têm efeito positivo sobre o clima da prisão, a violência diminui.
Dinheiro bem empregado
A
penitenciária de Freiburg emprega, em sua maioria, professores do sexo
feminino. Naquele mundo masculino fechado, isso leva algumas vezes a
problemas interpessoais. Renate Mayer, professora da Realschule,
vivenciou isso em alguns casos excepcionais. “Houve detentos que
simplesmente se apaixonaram. E foi difícil lidar com tais situações.”
Por
volta de 180 detentos frequentam os diversos cursos oferecidos na
penitenciária de Freiburg. Segundo o diretor Rösch, o custo médio de 40
a 100 euros por dia, com detentos que cumprem penas longas, é um
dinheiro bem empregado.
“Sei
que existem detentos perigosos que não conseguimos alcançar com essa
oferta. Também sei que existem vários presidiários aos quais podemos
chegar, pondo em prática a tarefa mais nobre do regime penitenciário: a
reintegração na sociedade.”
Atualmente,
devido à oferta de ensino, detentos de outras penitenciárias se
candidatam a uma vaga na prisão de Freiburg. Vitali veio de Ravensburg.
Com o diploma de informática aplicada à economia, ele quer fazer sua
próxima viagem em liberdade.
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