Erros que ensinam

Os erros cometidos por jornais, revistas e sites sobre ciência e saúde
podem ser de grande utilidade para avaliar os conhecimentos de
estudantes de medicina e nutrição, de acordo com uma nova proposta
pedagógica desenvolvida e aplicada em aula por um professor da
Universidade de Brasília (UnB).
O método de avaliação, criado por
Marcelo Hermes-Lima, professor do Departamento de Biologia Celular da
UnB e utilizado na disciplina Bioquímica e Biofísica, foi descrito em
um artigo que será publicado em breve na revista Biochemistry and
Molecular Biology Education.
De acordo com Hermes-Lima, nas provas, os
alunos de graduação devem responder se determinadas informações
veiculadas em diferentes mídias são verdadeiras ou falsas, com base em
seus conhecimentos de bioquímica metabólica, clínica e nutricional. O
método é utilizado neste formato desde 2006.
“A capacidade para
reconhecer os erros pode exigir um bom conhecimento na área biomédica.
Para isso, utilizamos textos com informações corretas e erradas
retiradas de veículos teoricamente confiáveis, mas que eventualmente
contêm erros de diferentes magnitudes”, disse Hermes-Lima à Agência
Fapesp.
Segundo o professor, monitores de graduação que são alunos de
uma disciplina avançada de bioquímica participam ativamente da
elaboração das provas. “O alto grau de envolvimento desses estudantes,
quando se lançam a uma revisão crítica dos conteúdos da mídia, é um dos
aspectos mais interessantes da experiência”, disse o professor.
Julia
Martins Oliveira e Diego Martins Mesquita – alunos de Medicina da UnB e
ex-monitores de bioquímica – são coautores do artigo. Além de descrever
o método, o artigo reporta a reação de 258 estudantes em relação às
provas.
“Os resultados mostram que 71% deles acharam as provas
difíceis. Os que consideraram as provas de boa qualidade foram 87%. E
94% acharam que o uso de questões extraídas da mídia é relevante para a
avaliação do aprendizado”, disse. A média de notas dos alunos nas
provas aplicadas entre 2006 e 2008 foi de 5,85 (com 10 de nota máxima).
Segundo Hermes-Lima, o baixo desempenho é possivelmente decorrente do
fato que os alunos não estão familiarizados com provas que não
enfatizam a memorização e os processos bioquímicos. “Infelizmente, no
ensino universitário brasileiro, os estudantes ainda são impelidos a
decorar”, ponderou.
Para classificar os tipos de questões feitas nas
provas, o estudo utilizou a escala de Bloom, uma escala cognitiva
empregada em pedagogia. “Um dos objetivos do uso de artigos publicados
pela mídia nas provas foi enfatizar o nível 3 da escala, que
corresponde à aplicação do conhecimento – enquanto o nível 1, por
exemplo, corresponde à ênfase na memorização. Concluímos que um terço
das questões das nossas provas estão no nível 3 da escala”, disse.
Hermes-Lima explica que, ao selecionar as imprecisões veiculadas em
diferentes mídias para utilização nas provas, sua equipe evitou incluir
os erros mais grosseiros. Utilizamos equívocos de diferentes níveis,
mas escolhemos erros normais de quem faz jornalismo científico na
pressa das redações. Descartamos os absurdos completos”, disse.
As
provas podem incluir, por exemplo, matérias corretas publicadas por
revistas de entretenimento e conteúdos errados veiculados por
colunistas consagrados.
“Fazemos isso como uma desmistificação, para
mostrar que o erro e o acerto podem estar em qualquer lugar. Achamos
que os estudantes terão que lidar com forte influência da mídia na
maneira como seus futuros pacientes percebem questões de saúde. Como os
erros e simplificações exageradas são comuns, temos que preparar os
futuros profissionais para identificá-los”, disse.
Estude nas melhores sem sair de casa
As melhores faculdades com ofertas super especiais para você começar a estudar sem sair de casa.