Falta de Leitura: De quem é a culpa?
Há alguns anos, um servente de pedreiro
passou no Vestibular de Direito numa faculdade do Rio de Janeiro. Até aí
tudo bem não fosse o incrível detalhe de que o indivíduo era
analfabeto.
O Ministro da Educação de então, professor Paulo Renato,
ficou escandalizado com o fato. A comunidade acadêmica ficou em
polvorosa. Foi um escândalo. Notícias foram publicadas a respeito,
promoveram-se vários debates sobre o assunto.
O MEC a partir de então,
instituiu a obrigatoriedade de uma prova de Redação para todos os
concursos vestibulares (tanto das universidades públicas quanto das
particulares), pois acreditavam os sábios do Ministério estar criando
assim uma barreira de competência quase intransponível para quem
quisesse fazer um curso superior. Ops! Vestibular em faculdade
particular?
Os alunos do
Ensino Médio do país inteiro, salvo raríssimas exceções, produzem hoje
um texto tão bom quanto o que produziria o nosso servente acima citado.
Pouco ou nada foi feito para se equipar as nossas escolas de condições
para ensinar como se produzir um bom texto. O mercado não tem bons
profissionais na área.
Muitos professores de Português e até mesmo de
Redação não conseguem produzir uma simples lauda com coerência e
clareza. A maioria das nossas escolas não tem sequer a disciplina
Redação no Ensino Médio. Os mestres não lêem quase nada, pois livros
custam caro. O povo não lê. A imprensa escrita, de um modo geral, apenas
informa em vez de ajudar a formar. Livros são gêneros tão supérfluos e
raros no Brasil quanto caviar de esturjão do mar Negro.
E não adianta
muito criar clubes de leitura ou coisas do gênero. Colocar livros como
componentes da cesta básica como até já sugeriu um Ministro da Educação é
tão ridículo que beira a insensatez. Num país de gente famélica como o
nosso, a atividade de ler e produzir um texto passou a ser talvez a mais
descartável das ações humanas. Brasileiro não lê, reclamamos. Mas
brasileiro come? É preciso reformular tudo, mudar tudo. Fazer uma
revolução. A atividade de ler deve sim, começar desde cedo, em casa e
incentivada pelos pais. “Um país se faz com homens e livros” (que sejam
lidos, é claro). As escolas deveriam cobrar diariamente dos seus alunos a
produção de um texto escrito como se fosse uma espécie de ordem do dia.
Além disso, a
mídia deveria contribuir com programas de incentivo à leitura e não com
essa programação imoral, alienante e sem sentido. Big Brother, Faustão,
Xuxa, a Fazenda, Gugu, os programas policias e outras porcarias do
gênero deveriam ser extintos da grade de programação, pois nada ensinam e
só deturpam e entorpecem a já deficiente e confusa mentalidade do
brasileiro. Que contribuição um programa policial dá à cultura e ao país
em termos de conhecimento? Geralmente apresentados por psicopatas ou
alienados, esses programas são verdadeiros shows de desrespeito aos
direitos humanos, de incentivo à cultura da “justiça com as próprias
mãos”, além de propagar a desigualdade social entrevistando só os
bandidos pequenos, aqueles “que só falam em juízo”.
Infelizmente não
será essa greve de professores ou outra qualquer que vai resolver este
delicado problema. Nem aqui nem em qualquer outro lugar do país. As
eleições já se aproximam e de novo nenhum alento no horizonte. Vamos
reconduzir aos cargos para nos governar os velhos de sempre:
mensaleiros, sanguessugas, corruptos, mentirosos, ladrões, compradores
de votos, estelionatários, bandidos e enganadores de fé alheia. Os
raríssimos eleitos que têm compromissos com a educação, com a cultura do
povo, se perderão no “oceano de mediocridade” em que se transformou a
política nesta nação de semi-analfabetos. O Brasil só vai mudar quando a
maioria do “e-leitor” se conscientizar
da importância do ato de ler para promover as transformações sociais de
que tanto necessitamos para o nosso progresso. Só que estamos a
“anos-luz” desta realidade, desta utopia. Uma pena.
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