Ler. Para quê?
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Ler um livro, para começar. Com todo o respeito pelos
jornais, revistas e meios eletrônicos, ler, de verdade, é ler livro.
Por mais que, democraticamente, se possa discordar desta posição.
Ler
um livro de literatura, fique claro. Manuais técnicos, religiosos e de
autoajuda são textos de consulta, não de leitura. Ler livro é ler
literatura, apesar de se vender o peixe por aí embrulhado em folhas de
livro.
Ler um livro de literatura de qualidade, esta é a
questão. Nem tudo o que reluz é literatura. Ler livro de literatura é
ler obra de qualidade estética e, claro, literária; o resto, me
desculpem, é perda de tempo.
Então, invariavelmente, vem a
pergunta: por qual razão, humanitária ou prática, haveria alguém de
pôr-se numa tal confusão de escolher um livro, e que fosse de
literatura, e que fosse de qualidade, para fazer essa coisa tão chata e
enfadonha que é isso de ler?
Evidente: numa casa em que pai,
mãe, tios e vizinhos param tudo – param de comer, de conversar, de se
conhecer e até de amar – para se deixar hipnotizar por uma sequencia
quase interminável de telenovelas (a sucessão de enredos sempre
repetitivos só acaba na hora de dormir para ir trabalhar amanhã cedo),
fica bem mais difícil para a criança e o adolescente descobrirem
espontaneamente o prazer insuperável da leitura (de um bom e instigante
livro de literatura).
O escritor peruano Mario Vargas Llosa dá a pista para uma resposta sensata à questão no livro Cartas a um Jovem Escritor:
“Sem
dúvida, o jogo da literatura não é inócuo. Produto de uma insatisfação
íntima com a vida como ela é, a ficção também é uma fonte de mal-estar
e insatisfação, pois quem, através da leitura, /vive/ uma grande ficção
– como as duas que acabo de citar, a de Cervantes e a de Flaubert (o
autor se refere, respectivamente, a Dom Quixote e Madame Bovary) –
retorna à vida real com uma sensibilidade muito mais aguçada diante de
suas limitações e imperfeições, inteirado por aquelas magníficas
fantasias de que o mundo real e a vida de verdade são infinitamente
mais medíocres do que os inventados pelos escritores. Essa
intranquilidade frente ao mundo real que a boa literatura alimenta
pode, em certas circunstâncias, traduzir-se também em uma atitude de
rebeldia contra a autoridade, as instituições ou as crenças
estabelecidas.”
Por isso os ditadores odeiam livros, quem os escreve e quem os lê.
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