O ensino precisa da internet, mas como ferramenta de apoio
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A rede trouxe uma revolução digital e a
escola vem sendo desafiada a utilizar as novas tecnologias. O problema
é que o modelo de ensino adotado nas escolas é da década de 50 e
precisa de revisão, segundo um professor da USP.
A internet provocou uma revolução na vida das pessoas – muita gente não
se lembra, mas antes era preciso enfrentar fila para entregar a
Declaração do Imposto de Renda, preenchida em formulário de papel;
também era necessário ir até a agência bancária para tirar um simples
extrato da conta ou fazer alguma transação financeira; e a única opção
para enviar uma mensagem escrita era o correio, que demora dias para
entregar a carta ao destinatário.
Por outro lado, a mesma revolução não
ocorreu na escola, na relação aluno e professor, mesmo que a internet
faça parte da vida de todos fora da sala de aula. “A internet oferece
muitas ferramentas, mas a tecnologia por si só não garante a
comunicação de duas vias e é um equívoco achar que as mudanças
ocorrerão automaticamente. É preciso mudar o modelo de educação, de
forma que as tecnologias possam servir de apoio para um projeto
pedagógico”, diz o professor José Manuel Moran, doutor em Comunicação
pela USP.
Segundo ele, o modelo de ensino adotado nas escolas vem da década de 50
e precisa ser revisado: “Estamos passando por uma revolução digital, a
escola está sendo desafiada a lidar com as novas tecnologias e se
inserir na era digital. Já não há mais espaço para o modelo de aula
tradicional, a informação hoje é automática e o aluno pode questionar o
professor na mesma hora em que ele está passando uma informação”.
Para o professor, as formas de educar com estruturas autoritárias não
resolvem as questões fundamentais, pois o problema não é tecnológico,
mas de comunicação. A tecnologia entra como apoio e o essencial é
estabelecer relações de parceria na aprendizagem; aprende-se muito mais
em uma relação baseada na confiança, em que alunos e professores possam
se expressar. Há uma dificuldade de se estabelecer relações
participativas entre alunos e professores, pois as estruturas são muito
autoritárias, existindo apenas os papéis de submisso ou dominador. Para
Moran, a cultura da imposição e do controle talvez seja a barreira mais
difícil de derrubar no processo pedagógico.
Algumas escolas vêm tentando usar ferramentas da internet para se
relacionar com os alunos, seja por meio de blogs, portais e até
comunidades no Orkut: “Em geral, as escolas preferem, com razão, manter
ambientes virtuais controlados, para que haja uma supervisão, como
salas de aulas virtuais e blogs. Já os alunos preferem ambientes mais
livres, usando muito o MSN e redes sociais. É preciso encontrar um
modelo que seja bom para todos, inclusive para o professor, que reclama
da falta de tempo para atualizar os conteúdos”.
Na opinião de Moran, um lado negativo da internet é ser muito
dispersiva e superficial. Muitos alunos ainda estão numa fase de
deslumbramento, são curiosos e não têm organização e maturidade para se
concentrar num tema: “Eles navegam em vários lugares ao mesmo tempo,
abrem mil páginas e não são muito seletivos, abrindo o primeiro link
que encontram numa pesquisa, copiando e colando o conteúdo. Eles não
refletem ou se aprofundam, mas esta não é uma questão meramente
tecnológica e sim pedagógica, pois cabe ao professor incentivar esse
aprofundamento e a reflexão, fazendo com que o aluno tenha uma visão
mais crítica”.
Também há resistência de professores em adotar novas ferramentas e
metodologias: “Há uma parte dos professores que, mesmo tendo
laboratórios e acesso à internet, resiste a métodos que não sejam os
tradicionais. Por outro lado, há os que descobrem as novas mídias, mas
não desenvolvem formas de ensino que possam ser interessantes em salas
de aula, não usam técnicas de pesquisa ou de apresentação mais
avançadas, preferem jogar os alunos nos laboratórios. Equilibrar o
melhor do ensino presencial e do espaço virtual é fundamental”.
Para o professor Felipe Spinelli, gerente de marketing da FGV Online,
da Fundação Getúlio Vargas, as ferramentas e metodologias desenvolvidas
pelos cursos de Educação a Distância (EAD) podem contribuir para o
desenvolvimento de modelos pedagógicos utilizando a internet: “Atuamos
em EAD desde 2007 e contamos com a participação de trinta mil alunos
por ano.
São onze cursos de MBAs, 200 disciplinas avulsas e uma
graduação (tecnólogo em Processos Gerenciais). Usamos videoconferência,
ambientes colaborativos, fóruns de discussão, vídeos, apresentações e
outros materiais digitais. Oferecemos, inclusive, vinte cursos
gratuitos disponíveis em nosso site (www.fgv.br/ fgvonline), que já
receberam um milhão de acessos. Temos transmitido nossos conhecimentos
para os cursos presenciais da FGV. A tendência é que não haja mais
cursos 100% presenciais, pois eles acabarão incorporando as ferramentas
virtuais”.
Inclusão digital
Na opinião do professor José Manuel Moran, um exemplo de projeto de
inclusão digital que deu certo é o UCA (Um Computador por Aluno) no
município de Piraí, no Rio de Janeiro. Por meio de um convênio com o
governo estadual, foram investidos R$ 5,28 milhões – R$ 4 milhões do
Estado e R$ 1,28 milhão da Prefeitura – na aquisição dos PCs, montagem
da infraestrutura de servidores e qualificação dos professores. Já são
6.290 alunos beneficiados, em 21 escolas do município.
Há cerca de doze anos o município sofreu um duro golpe em sua economia,
com a privatização da Light, então o maior empregador da região. A
falta de infraestrutura de comunicações, em uma região montanhosa e de
ocupação dispersa em 520 km², dificultaria ainda mais a atração de
investimentos, o que levou a prefeitura a implementar cobertura Wi-Fi
(acesso banda larga sem fio). A ideia era usar essa estrutura para a
administração municipal e também como fonte de receita, o que foi
proibido pela Anatel.
Por outro lado, por ter a cobertura Wi-Fi, o município foi um dos
quatro escolhidos pelo governo federal para implantar o piloto do
Projeto UCA. Os outros escolhidos – todos capitais de Estado – foram
São Paulo, Palmas e Porto Alegre, mas a experiência de maior sucesso
foi a de Piraí, comprovada pelos números apresentados pelo colégio
escolhido – o CIEP municipalizado Professora Rosa da Conceição Guedes.
A evasão escolar caiu para menos de 1% (a média nacional é de 26%),
subiu de 2,4 para 4,8 o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica), que mede a qualidade do ensino, melhorou a disciplina e
cresceram o interesse e a participação dos alunos. A matrícula na
escola cresceu de 87 alunos em 2005 para cerca de 600 hoje.
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