Portadores de deficiência disputam o Vestibular da Unicamp em igualdade de condições
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Dos 77 candidatos portadores de deficiência (neurológica, visual,
auditiva ou física) que se inscreveram no Vestibular Unicamp, 23
passaram à 2ª fase, todos contando com o apoio do Centro de Estudos e
Pesquisas em Reabilitação (Cepre) para realizar as provas em igualdade
de condições com os demais.
“A Comvest é pioneira na prestação deste
serviço, iniciado antes de 1993, quando cheguei à Universidade. E vem
investindo cada vez mais nesses candidatos, visto que vários deles já
entraram e se deram bem em cursos como de música, medicina e
engenharia”, afirma o professor Elinton Adami Chaim, atual coordenador
do Cepre e responsável pela aplicação das provas no local.
O
Centro é vinculado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e tem como
objetivos a pesquisa, o ensino e a assistência na área das deficiências
sensoriais. Seus equipamentos permitem oferecer provas em braile, com
letras aumentadas ou no computador. Se o candidato não pode ler e/ou
escrever, um monitor qualificado faz isso por ele; se sofreu uma
cirurgia de véspera ou passa por tratamento, a prova é levada ao
hospital. “Ser portador de deficiência não implica falta de
inteligência para entrar na universidade. Damos as condições para que
seja medida a sua real capacidade”, diz Chaim.
Segundo
o coordenador do Cepre, um candidato com neoplasia, debilitado pela
quimioterapia, fez as provas deste Vestibular no hospital, esforço que
ele considera heróico. “Temos dois candidatos em pós-operatórios
(neurocirurgia e apendicectomia), dois com fraturas no braço (sem saber
escrever com a outra mão), cinco com deficiência visual e outros com
algum problema neurológico (dislexia, déficit de atenção e, na maioria,
problemas motores)”.
Elinton Chaim montou uma equipe com 15
voluntários especializados, o que dá a média de quase um para cada
candidato. William Alexandre de Oliveira é um deles: biólogo por
formação, ele trabalha na área de assessoria técnica e científica do
Hospital da Mulher (Caism) e monitorava um candidato que se tornou
cadeirante há poucos anos, devido a um acidente na piscina. “Ele não
tem força na mão direita e eu escrevo o que dita, conforme precisa, mas
sem interferir na prova em momento algum. Faço isso porque acho o Cepre
uma escola bonita”.
A lei assegura aos candidatos portadores de
deficiência um tempo maior para terminar a prova, que pode ser de uma
ou duas horas a mais, dependendo do laudo médico que é enviado e
analisado pela Comvest. “Muitos têm problemas de visão e não conhecem
braile, mas preferem ler as questões. Quando aumentamos a fonte para
‘arial 26’, a prova fica enorme e o candidato demora bem mais para ler
o enunciado”, observa Chaim.
Foi
para ganhar uma hora a mais que Sophia Bocaletto, 17 anos, candidata ao
curso de Música Popular, recorreu à Comvest para fazer a prova no
Cepre. Ao contrário da dislexia (dificuldade de leitura e escrita), ela
sofre de discalculia, uma desordem neurológica que afeta a habilidade
de compreender e manipular números, a ponto de ter que parar e refletir
para ver as horas. “Sou autodidata em piano, o que pode ter causado a
discalculia. Fui alfabetizada por minha avó que, por eu ser canhota, me
obrigava a fazer tudo com a mão direita. Virei meio que ambidestra e
tocar piano, para mim, não é tão difícil”.
Sophia, obviamente,
deixou muitas questões em branco na prova de Matemática, mas conseguiu
não zerar, o que a eliminaria. E acha que vai compensar com as outras
matérias, possibilidade que comprovou já no dia seguinte: fez as provas
de Ciências Humanas e Artes e de Língua Inglesa em apenas hora e meia.
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