Reduto humanista
Foi um professor dos tempos de escola um dos responsáveis por despertar
o interesse de Fernando Meirelles pela linguagem e pelo cinema. Aos 54
anos, o diretor de Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira é um dos
ex-alunos famosos do Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros.
“O
professor de literatura, que se chamava Amauri Sanchez, dava suas aulas
com paixão, revelava o que havia escondido por trás das palavras”, diz
Meirelles.
O Santa Cruz, fundado em 1952, teve o melhor
desempenho no Enem na zona oeste – as 10 melhores escolas da região
estão entre as 40 primeiras do ranking na capital. Nesse grupo de
elite, o Santa também é o maior em número de estudantes: são 3 mil,
divididos entre os ensinos infantil, fundamental e médio.
Meirelles
estudou no colégio da 5ª série do ensino fundamental até o fim do
ensino médio. Depois, cursou Arquitetura na USP e trabalhou como
publicitário antes de enveredar pelo cinema. Indicado ao Oscar de
melhor diretor por Cidade de Deus ele diz que o colégio teve um papel
marcante na sua trajetória pela qualidade dos professores e pela ênfase
na formação humanista. “Lia-se muito. Este hábito trago na minha vida
até hoje.”
Ex-aluno do Colégio Albert Sabin, no Rio
Pequeno, Gabriel Landi Fazzio tem idade para ser filho de Meirelles,
apenas 18 anos. Mas também considera marcante a passagem pelo colégio.
“No Sabin eles têm uma visão que não se limita ao institucional. Sentia
que eles estavam sempre perto do aluno, numa relação de amizade. Você
aprendia muito também fora da sala de aula.”
Gabriel
pretendia inicialmente fazer graduação em Jornalismo ou Letras. Mas
interessou-se pelo Direito nos fóruns de profissões promovidos pelo
colégio. Sem passar pelo cursinho, entrou este ano na Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, da USP. “A escola sempre se preocupou
em ajudar na escolha da carreira e mostrar o lado bom e o ruim de cada
uma delas.”
A publicitária Caroline Freire, de 34 anos,
também terminou o ensino médio e entrou, direto, numa boa faculdade.
Ex-aluna do Colégio Palmares, em Pinheiros – o 2º melhor da região no
Enem, uma posição à frente do Sabin –, Caroline formou-se na Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e trabalha na agência
Almap/BBDO.
“O colégio é muito bom em termos de passar
conteúdo, conhecimento, e faz o aluno aprender.” Apesar da boa
avaliação, Caroline não pretende matricular no Palmares a filha Elisa,
de 5 anos. “Não concordo com a filosofia da escola”, diz. “É muito
rígida.”
Eric Outi Costa, de 23, estudou no Palmares e,
ao contrário de Elisa, não tem queixas da escola. Mas acredita que a
decisão de mudar de colégio lhe abriu novas perspectivas profissionais.
Eric se transferiu para a Escola do Futuro, no Jaguaré, porque o
diploma do colégio é aceito por universidades dos Estados Unidos sem a
necessidade de validação. Depois de concluir o ensino médio, ele nem
precisou fazer o Toefl, teste de proficiência em língua inglesa exigido
de alunos de fora dos EUA.
“A passagem pela Escola do
Futuro permitiu que eu saísse para a graduação nos Estados Unidos.
Aliás, na época, o pessoal do colégio fez até o contato com a
instituição de lá”, diz Eric, que se diplomou em Administração na
Universidade de Liberty, na Virgínia, voltou ao Brasil e trabalha como
analista financeiro de uma empresa de internet. “O que também me marcou
na Escola do Futuro foi a formação como cidadão. O colégio era pequeno
e todo mundo se conhecia.”
Graduado em Administração
pela PUC de São Paulo, Rodrigo Sant’Anna, de 33 anos, se deu conta da
importância do que havia aprendido no Colégio Pentágono, em Perdizes,
quando se mudou para o Canadá, onde cursou um MBA. “O que me facilitou
a vida é que eu sabia estudar. Os colegas iam à aula para só depois ler
o material. Eu me preparava antes e usava a aula para questionar o
professor, não ficava lá só assistindo à exposição dele”, afirma
Sant’Anna, que conseguiu emprego quando cursava o MBA e hoje trabalha
como consultor sênior de Logística da IBM. Ele mora em London, no
Canadá, mas atualmente está na Londres inglesa, tocando para a IBM um
projeto que tem a Shell como cliente.
PROXIMIDADE
Para
Sant’Anna, o Pentágono conseguia combinar a ênfase na preparação para a
faculdade e a carreira com um clima de proximidade com os alunos.
Quando estava no 3º ano do ensino médio, sua mãe mudou-se para o Rio e
ele ficou morando sozinho em São Paulo. “A coordenação da escola tinha
conhecimento disso e ficou lá, presente, para saber como eu estava. Foi
quase como uma segunda família.”
Curador do clube de
gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), Cauê Alves, de 32
anos, se recorda de várias ocasiões em que foi para casa de carona com
os professores do Colégio Ítaca, no Butantã. “A escola é pequena, então
tem um contato individualizado com os alunos. O próprio diretor levava
alguns estudantes para o colégio.
Cauê formou-se em
Filosofia na USP. Concluiu o mestrado na universidade e hoje faz lá
doutorado em História da Arte. “No Ítaca eles não deixavam de lado o
conteúdo básico, mas a capacidade de pensar sempre foi muito
valorizada. Para o meu campo de trabalho, fez muita diferença.”
Diretor
de Responsabilidade Social do Wal Mart, Paulo Mindlin, de 33 anos,
também menciona a proximidade entre direção, professores e alunos como
uma das características positivas do Colégio Oswald de Andrade, no Alto
da Lapa. “O Oswald não era só uma máquina de gravar conhecimento na
cabeça, as pessoas se relacionavam de perto.”
Mindlin
elogia o colégio pela formação ampla, não restrita à preparação para o
vestibular: lembra que teve aulas de política, física quântica e
capoeira. “Eu não tive grande desempenho no vestibular, mas passei. O
primeiro lugar estava na minha sala, do meu lado, mas fizemos o mesmo
curso”, diz o executivo, formado em Administração pela Fundação Getúlio
Vargas.
Como Mindlin, Paulo Barradas Barata, de 28,
gostou de ter estudado num colégio cujo foco ia além do vestibular – o
Vera Cruz, que tem o ensino fundamental no Alto de Pinheiros e o médio
na Vila Leopoldina. “Não ficava fazendo simulado, o Vera tinha uma
visão mais importante que isso”, diz Barradas, filho do secretário
estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.
Formado
em Direito pela PUC, Barradas trabalha no Pinheiro Neto, um dos maiores
escritórios do País. “O colégio foi interessante porque reunia muitas
pessoas diferentes. No escritório, vejo que, em muitos casos, as
pessoas estavam acostumadas a conviver só com iguais.” Barradas vê
outra vantagem da passagem pelo Vera. “As aulas eram muito
participativas. Acho que vem daí o traço mais marcante da escola na
minha carreira, a capacidade de argumentação.”
DE PAI PARA FILHA
Entre
os dez colégios da zona oeste com melhor performance no Enem, dois são
religiosos, o Santa Clara, no Alto de Pinheiros, e o Sagrado Coração de
Jesus, na Pompeia. O promotor da Vara da Família da capital Wilson
Tafner, de 42, estudou no Santa Clara. Embora seja adepto do
espiritismo, Tafner considera fundamental a formação cristã recebida na
escola. “É uma formação de caráter, para a vida. A escola acaba criando
um ser humano melhor”, diz o promotor, que matriculou no colégio a
filha Aline, de 24 anos, psicóloga formada pela USP.
Tafner,
que comandou a Vara da Infância e da Juventude por nove anos, acredita
que o Santa Clara influenciou a sua atuação profissional. “A
convivência comunitária incentivada na escola foi o que mais marcou.
Mas além da questão humana, tive também o resultado efetivo”, diz
Tafner, que cursou Direito na USP e passou em 1º lugar no concurso para
a Promotoria.
Estudante do 2º semestre de Pedagogia da
USP, Paula Lima Fernandes, de 18, cursou da pré-escola ao ensino médio
no Sagrado Coração. “O lado moral da formação da escola me marcou
profundamente.” Paula diz que rezava todas as manhãs no colégio. “Mas
eu tinha colegas budistas e evangélicos e a direção nunca forçou
ninguém a participar de atividades que fossem contra as suas convicções
religiosas.”
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