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CARTA ARGUMENTATIVA

Algumas universidades, como a UEL e a Unicamp, têm cobrado nos exames vestibulares uma modalidade de texto muito interessante: a carta argumentativa. Mas você conhece as características desse gênero textual?

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Ao contrário do que pensam muitos vestibulandos, não há segredo algum na elaboração da carta. Aliás, ela é, segundo alguns, bem mais simples que a dissertação tradicional, pois é um tipo de texto bem próximo à realidade dos alunos, dos quais a maioria certamente já escreveu uma carta a alguém.

Continue a leitura e conheça as características de uma carta argumentativa e aprenda como escrevê-la. Além disso, você encontrará no final um exemplo de uma ótima redação escrita nessa modalidade para um exame vestibular.

O que é uma carta argumentativa?

A carta argumentativa é uma modalidade de texto pelo qual uma pessoa pode encaminhar diretamente a sua opinião e ponto de vista a uma outra pessoa. 

Esse gênero textual é muito importante na sociedade contemporânea. Através da carta argumentativa, os cidadãos podem opinar sobre os mais diferentes assuntos, defender um ponto de vista e encaminhar seus argumentos a destinatários específicos, como políticos e representantes públicos, instituições, jornais, diretores de empresas, entre outros.

De modo geral, a carta argumentativa permite que o autor se expresse sobre os problemas que enfrenta em seu dia a dia e tente convencer o leitor sobre a urgência de resolução dessa questão, utilizando da persuasão e argumentação. Possíveis soluções podem, inclusive, ser sugeridas pelo escritor.

Características da carta argumentativa

A carta argumentativa possui muitas semelhanças com a dissertação, especialmente no uso de argumentos para defender um ponto de vista.

Contudo, apesar das semelhanças com a dissertação, que você já conhece, é claro que há diferenças importantes entre esses dois tipos de redação. Vejamos, então, as principais características da carta cobrada pelos vestibulares e que a diferem da dissertação tradicional:

Estrutura dissertativa

A carta argumentativa possui em sua estrutura a tríade introdução, desenvolvimento e conclusão, assim como a tradicional dissertação. Contudo, são adicionados alguns elementos, como cabeçalho, vocativo e assinatura.

Interlocutor definido

Essa é, indubitavelmente, a principal diferença entre a dissertação tradicional e a carta. Quando alguém pedia a você que produzisse um texto dissertativo, geralmente não lhe indicava aquele que o leria. Você simplesmente tinha que escrever um texto para alguém. Na carta, isso muda: estabelece-se uma comunicação particular entre um eu definido e um você definido. 

Necessidade de dirigir-se ao leitor

Aa dissertação tradicional, recomenda-se que você evite dirigir-se diretamente ao leitor por meio de verbos no imperativo (“pense”, “veja”, “imagine”, etc.). Ao escrever uma carta, essa prescrição cai por terra. Você até passa a ter a necessidade de fazer o leitor “aparecer” nas linhas de seu texto.

No episódio abaixo do podcast Linguagens, professora especializada em literatura e produção textual explica as principais características de uma carta argumentativa:

Estrutura da carta argumentativa

A carta argumentativa possui uma estrutura dissertativa. Portanto, costuma-se enquadrar a carta na tipologia dissertativa, uma vez que, como a dissertação tradicional, apresenta a tríade introdução, desenvolvimento e conclusão.

Os modelos de introdução, desenvolvimento e conclusão são bastante similares aos que você já aprendeu com a dissertação tradicional. E você continua tendo a liberdade de inovar e cultivar o seu próprio estilo!

Contudo, alguns elementos são adicionados a essa estrutura. Veja a seguir:

Cabeçalho

Na primeira linha da carta, na margem do parágrafo, aparecem o nome da cidade e a data na qual se escreve. Exemplo: Londrina, 15 de março de 2003.

Vocativo inicial

Na segunda linha da carta, também na margem do parágrafo, há o termo por meio do qual você se dirige ao leitor, geralmente marcado por vírgula. A escolha desse vocativo dependerá muito do leitor e da relação social com ele estabelecida. Exemplos: Prezado senhor Fulano, Excelentíssimo senhor presidente Fulano de Tal, Caro deputado Sicrano, etc.

Introdução

No primeiro parágrafo, deve ser apresentado ao leitor o ponto de vista a ser defendido, igualmente na dissertação.

Desenvolvimento

Nos dois ou três parágrafos subsequentes à introdução (considerando-se uma carta de 20 a 30 linhas), deverá ser construída a defesa do ponto de vista, por meio da utilização de argumentos que o sustentarão.

Conclusão

No último parágrafo, é reforçada a tese do ponto de vista. Podem ser apresentadas uma ou mais propostas ao leitor, se for o caso.

Expressão que introduz a assinatura

Terminada a carta, é de praxe produzir, na linha de baixo, à margem do parágrafo, uma expressão que precede a assinatura do autor. A mais comum é “Atenciosamente”, mas dependendo da sua criatividade e das suas intenções para com o interlocutor, será possível gerar várias outras expressões, como “De um amigo”, “De um cidadão que votou no senhor”, “De alguém que deseja ser atendido”, etc.

Assinatura

Um texto pessoal, como é a carta, deve ser assinado pelo autor. Nos vestibulares, porém, costuma-se solicitar ao aluno que não escreva o próprio nome por extenso. Na Unicamp, por exemplo, ele deve escrever a inicial do nome e dos sobrenomes (J. A. P. para João Alves Pereira, por exemplo). Na UEL, somente a inicial do prenome deve aparecer (J. para o nome supracitado). Essa postura adotada pelas universidades é importante para que se garanta a imparcialidade dos corretores na avaliação das redações.

Como escrever uma carta argumentativa?

Escrever uma carta argumentativa não é nenhum bicho de sete cabeças. Contudo é preciso seguir sua estrutura e levar em consideração algumas observações referentes a suas características e especificidades.

Como esse tipo de carta não deixa de ser uma espécie de dissertação argumentativa, você deverá selecionar com bastante cuidado e capricho os argumentos que sustentarão a sua tese. É importante convencer o leitor do seu ponto de vista.

Além disso, você possui um interlocutor definido, ao contrário da dissertação tradicional. Logo, você terá que ser bastante habilidoso para adaptar a linguagem e a argumentação à realidade desse leitor e ao grau de intimidade estabelecido entre vocês dois.

Imagine, por exemplo, uma carta dirigida a um presidente de uma associação de moradores de um bairro carente de determinada cidade. Esse senhor, do qual você não é íntimo, não tem o Ensino Médio completo. Então, a sua linguagem, escritor, deverá ser mais simples do que a utilizada numa carta para um juiz, por exemplo. Porém, por mais que as palavras possam ser mais simples nesse caso, a Gramática sempre deve ser respeitada.

Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade dele. Mas, da mesma maneira que a competência do interlocutor não pode ser superestimada, não pode, é claro, ser menosprezada. Você deve ter bom senso e equilíbrio para selecionar os argumentos e as informações que não sejam óbvios ou incompreensíveis àquele que lerá a carta. 

Além disso, você precisa se dirigir ao leitor. Se a carta é para ele, é claro que ele deve ser evocado no decorrer do texto. Então, verbos no imperativo – que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor – e vocativos são bem-vindos.

Observação: é uma falha comum entre os alunos-escritores “disfarçar” uma dissertação tradicional de carta argumentativa. Alguns escrevem o cabeçalho, o vocativo inicial, um texto que não evoca em momento algum o leitor e, ao final, a assinatura. Tome cuidado! Na carta, vale reforçar: o leitor “aparece” em todo o texto.

No vídeo abaixo, produzido pela Quero Educação, você confere algumas dicas importantes para ajudar a escrever uma carta argumentativa:

Leia também: Veja dicas para fazer uma boa redação 

Exemplo de carta argumentativa

Leia agora uma carta argumentativa baseada num tema proposto pela UEL em 2002. Preste muita atenção ao que foi pedido no enunciado e aos textos de apoio (suprimiu-se, por questões de espaço, um trecho do texto b). Note que os elementos da estrutura da carta foram respeitados pelo autor.

Enunciado e textos de apoio

A partir da leitura crítica dos textos de apoio, escreva uma carta dirigida a um jornal da cidade, sugerindo medidas para conter a violência em Londrina.

  1. a) A violência, quem diria, já não é o que mais preocupa o brasileiro. Chegamos à era da selvageria.

(Marcelo Carneiro e Ronaldo França)

Não é preciso ser especialista em segurança pública para perceber que o crime atingiu níveis insuportáveis. Hoje, as vítimas da violência têm a sensação quase de alívio quando, num assalto, perdem a carteira ou o carro – e não a vida.

Essa espiral de insegurança gerou uma variante ainda mais assustadora. É o crime com crueldade. A morte trágica de Tim Lopes, o repórter da Rede Globo que realizava uma reportagem sobre tráfico de drogas e exploração sexual de menores em um baile funk numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, é apenas o exemplo mais recente de uma tragédia que se repete a toda hora. Desta vez, com uma questão ainda mais aguda: por que um bandido precisa brutalizar as suas vítimas?  

O fato de as cenas mais chocantes da brutalidade estarem quase sempre associadas a regiões pobres das áreas metropolitanas das capitais brasileiras criou, em alguns especialistas, a idéia de que boa parte dos problemas de segurança poderia ser resolvida com investimentos maciços na área social. Trata-se de um equívoco.

Um levantamento do jornal O Globo mostra que, desde 1995, a prefeitura do Rio já investiu quase 2 bilhões de reais em projetos de urbanização, saneamento e lazer em favelas. Isso não impediu que, nos últimos dez anos, houvesse um crescimento de 41% no número de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, na maioria moradores de áreas carentes.

O aumento da criminalidade desafia qualquer lógica que vincule, de modo simplista, indicadores sociais a baixos índices de violência. Desde a década de 80, quando o tráfico de drogas passou a se estabelecer definitivamente nas principais cidades brasileiras, os números relativos à educação, saúde e saneamento só fazem melhorar no país.

O investimento dos governos estaduais em segurança também é crescente. Só neste ano, o governador paulista, Geraldo Alckmin, prometeu destinar 190 milhões de reais para o combate à criminalidade, a construção de três penitenciárias e a aquisição de novos veículos – um recorde.    

“Vincular violência somente a problemas sociais, por exemplo, é um erro. O crime organizado e a brutalidade que ele gera são um fenômeno internacional”, diz a juíza aposentada Denise Frossard. Os códigos de crueldade das organizações criminosas chinesas, com mutilações do globo ocular, ou da máfia italiana, especializada em decepar a língua dos traidores, não diferem em nada do “microondas”, criação dos traficantes cariocas para incinerar seus inimigos.

As soluções para tentar diminuir a espiral da brutalidade também podem ser encontradas no exterior. Criado em 1993, o projeto de Tolerância Zero, da prefeitura de Nova York, tinha desde o início o objetivo de combater os violentos crimes de homicídio por tráfico de drogas. Descobriu-se que o furto de veículos, um crime mais leve, tinha relação direta com os assassinatos.

Combatendo-se o furto, caía também o número de mortes. Assim feito, ao mesmo tempo que uma faxina nas delegacias eliminou centenas de policiais corruptos. São medidas que, no Brasil, ainda estão no campo da discussão. Quando finalmente se decidir pela ação, talvez já seja tarde. Por enquanto, a sociedade se pergunta, perplexa, como pode uma parte dela comportar-se de modo tão bárbaro. (Veja, jun. de 2002)

  1. b) Iniciativas contra sete gatilhos da violência urbana

É imprescindível discutir a violência quando ocorre um homicídio por hora só na grande São Paulo. A cifra prova que o poder público fracassou numa das principais obrigações determinadas pela Constituição: garantir a segurança dos cidadãos. Este artigo apresenta iniciativas que tentam minimizar algumas causas da violência como as detalhadas no quadro abaixo. Elas atuam sobre sete fatores que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania, qualidade de vida, identidade e família.

Vigário Geral

  • Nome: Grupo Cultural Afro Reggae
  • Área de atuação: combate ao narcotráfico e ao subemprego
  • Comunidades atendidas: Vigário geral, Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas, Rio  de Janeiro (RJ)
  • População atendida: 744 jovens e adultos (números atuais)
  • Quando começou: 21 de janeiro de 1993
  • Quem financia: Fundação Ford (apoio institucional)
  • Mais informações: site…

Jardim Ângela

  • Nome: Base Comunitária da Polícia Militar
  • Área de atuação: policiamento e atendimento social
  • Comunidades atendidas: Jardim Ângela
  • População atendida: 260 mil habitantes
  • Quando começou: 1998
  • Quem financia: Governo do Estado de São Paulo
  • Mais informações: fone…

Exemplo de redação na modalidade carta argumentativa

Londrina, 10 de setembro de 2002

Prezado editor,

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de “sorte” para constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranquilidade na terceira cidade mais importante do Sul do país.

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do exterior. Foi muito divulgado pela mídia – inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina – o projeto de Tolerância Zero, adotado pela prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.

Convenhamos, senhor editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que, como todos os londrinenses, deseja viver tranquilamente em nossa cidade.

Atenciosamente,

M.

Comentários

Percebeu como a estrutura da carta é dissertativa? No primeiro parágrafo – releia e confira – é apresentada a tese a ser defendida (a de que a situação da violência é grave, mas não irremediável).

Nos dois parágrafos subsequentes (o desenvolvimento), são apresentadas, obedecendo ao que se pede no enunciado, propostas para combater a violência na cidade de Londrina.

Já no último parágrafo, a conclusão, propõe-se que as autoridades sigam exemplos como os citados no desenvolvimento.

O leitor, o editor do jornal, “apareceu” no texto, o que é muito positivo em se tratando de uma carta. E, como não poderia deixar de ser, foram respeitados os elementos pré-textuais (cabeçalho e vocativo) e pós-textuais (expressão introdutora de assinatura e assinatura).

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Agora que você já sabe como escrever uma carta argumentativa, está mais fácil passar no vestibular e garantir uma vaga na tão sonhada faculdade. Afinal, esse gênero textual pode ser cobrado em diversos processos seletivos.

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E aí, esse conteúdo ajudou você a entender como escrever uma carta argumentativa? Conte para a gente aqui nos comentários!

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