‘Se pode’ ou ‘pode-se’: veja qual a colocação pronominal
Sabemos que existe aquela dúvida em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos na frase.
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Por exemplo: “Será que, na frase ‘Não me toque’, o pronome deveria ficar antes do verbo (Não me toque) ou depois dele (Não toque-me)?” “É ‘se deu’, ou ‘deu-se’?”
Vamos te mostrar que tudo vai depender dos ímãs. “Ímãs?” É, os ímãs são as palavras que puxam, que atraem esses pronomes. Confira todas as dicas para fazer a colocação pronominal correta no material que preparamos!
Quais os pronomes oblíquos átonos?
Antes de mais nada, vamos relembrar quais são os pronomes oblíquos átonos:
- me – refere-se à 1ª pessoa do singular | “Eu”
- te – refere-se à 2ª pessoa do singular | “Tu”
- o, a, se, lhe – refere-se à 3ª pessoa do singular | “Ele/ela”
- nos – refere-se à 1ª pessoa do pluras | “Nós”
- vos – refere-se à 2ª pessoa do plural | “Vós”
- os, as, se, lhes – refere-se à 3 ª pessoa do plural | “Eles/elas”
Esses pronomes são responsáveis por desempenhar uma função sintática de complemento, funcionando nas orações como objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal.
Ímãs: que palavras atraem os pronomes?
Confira abaixo a lista com os tipos de palavras que atraem os pronomes:
Palavras negativas
Qualquer palavra de sentido negativo, por exemplo, é ímã; atrai o pronome. Não, nunca, jamais, nem, ninguém, nada, etc. Exemplo: Não me toque; Acho que ele nunca se tocou; etc.;
Que
A palavra QUE, menos quando for substantivo, também é ímã. Sempre atrai o pronome: Quero que me faça um favor!; Foi ela que se estropiou; E aquele quê chamou-me à atenção (aqui, o quê é substantivo, nome, e não é ímã. Significa algo mais, qualquer coisa), etc.;
Advérbios
Qualquer advérbio – palavra que exprime circunstâncias de tempo, modo, lugar, afirmação, dúvida – como: hoje (tempo), sempre (tempo), já (tempo), sempre (tempo), talvez (dúvida), agora (tempo), aqui (lugar), etc.
Exemplos: Aqui se faz, aqui se paga; Eles agora se entendem; Tudo já se acabou.
Obs.: se, após o advérbio, houver pausa (com vírgula), não haverá a atração: “Ontem, deram-me um presente.”
Pronomes demonstrativos
principalmente os grifados (este, esse, aquele, isso, isto, aquilo etc.).
Exemplos: Esse garoto se deu mal; Sabia que isso lhe faz bem?;
Pronomes indefinidos
São aqueles que se referem a um ser de maneira vaga, imprecisa, indefinida, como por exemplo: tudo, todos, vários, muitos, poucos, diversos, alguém, ninguém, etc.
Exemplos: Ninguém se culpou; Creio que todos o chamaram; etc.
Pronomes relativos
São pronomes relativos: que, quem, o qual, a qual, quanto, onde, etc.).
Exemplos: Onde se estabeleceu a desordem?; Eis a moça a quem me dirigi.
Conjunções subordinativas
As conjunções subordinativas são palavrinhas que ligam as orações subordinadas às principais, como: porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante, enquanto, quanto mais, etc.
Exemplos: Ficou bravo porque se danou; Quanto mais se gaba, mais se ilude.
Obs.: se o ‘porque’ for substituível pela palavra ‘que’ (caso em que será explicativo), não atrairá o pronome.
Exemplo: Fique quieta já, porque (que) chamaram-na de desequilibrada.
Próclise
Nos exemplos que vimos, as palavras ímãs atraíram os pronomes formando uma próclise. Como o nome já diz, o pronome é colocado antes do verbo. Na linguagem coloquial, essa é a forma mais comum de se posicionar o pronome – porém nem sempre a correta.
“E somente nesses casos o pronome vem antes do verbo?”
Não, existem outros casos em que o pronome vai antes do verbo:
- Gerúndio precedido da preposição em
O gerúndio é o verbo na terminação ‘ndo’. Exemplo: Em SE tratando de dinheiro, não tomemos partido.
- Frases exclamativas e optativas
São aquelas que exprimem emoção, desejo, etc. Exemplos: Que Deus o acompanhe!; Que ele se dê muito bem; etc.
- Preposição + verbo no infinitivo
Quando a preposição (geralmente a, para…) é seguida do verbo no infinitivo (cantar, cantares, cantar, cantarmos, cantarem, etc.) mantém-se a próclise. Isso pois é levado em consideração o som, que deve ser agradável, convencionou-se que o pronome também deve posicionar-se antes do verbo.
Exemplo: Ao se trocarem, notaram vestes estranhas no armário; Para se promoverem, fizeram coisas terríveis; etc.
Obs.: Se a preposição for a e o pronome, a ou o, preferir-se-á, por questão de sonoridade, a colocação após o verbo. Dessa forma: Eu estava a olhá-la (e não “Eu estava a a olhar”); Eu estava a olhá-lo (e não “Eu estava a o olhar”).
Ênclise
E quando o pronome vem depois do verbo?
Em primeiro lugar, é bom você saber que, se não houver ímã algum, o pronome pode ficar depois do verbo. Pode, mas é claro que, se for possível a próclise, ela será preferida, pois faz mais sentindo com a tendência do português falado no Brasil.
Veja algumas situações em que se deve colocar o pronome após o verbo:
Pronome oblíquo átono não vai no início da frase
Uma frase nunca deve ser iniciada por um pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe). Algumas inadequações: “Me faça um favor”; “Se preocupou comigo?” Corrigindo-os, teríamos: Faça-me um favor; Preocupou-se comigo?;
Frases Imperativas Afirmativas
As frases imperativas afirmativas são aquelas que exprimem ordem, pedido. Nesses casos, o pronome também fica depois do verbo: Entregue-me o papel!; Dê-lhe o baralho; etc.
Gerúndio
Com o gerúndio (forma em que o verbo termina em ndo, como em: andando, correndo, etc.), o pronome prefere ficar após o verbo.
Exemplo: O evento ocorreu desse modo, evitando-se os conflitos; Vi as crianças perdendo-se entre agressões; etc.
Obs.: na expressão formada por em + se + gerúndio, como já foi dito, o pronome (se) fica antes do verbo. Exemplo: Em se tratando de futebol, ele é o melhor.
Mesóclise
“E o pronome também pode ficar no meio do verbo?“
Pode, claro. Nesse caso é feita a mesóclise. Mas é importante ressalta que essa construção é praticamente inexistente no português falado no Brasil, tendo em vista que a nossa tendência é pôr o pronome antes do verbo (a já famosa próclise). Mas é inevitável neste caso:
- Quando a frase for iniciada por um verbo no futuro do pretérito do indicativo (eu faria, tu farias, ele faria, etc.) ou no futuro do presente do mesmo modo (eu farei, tu farás, ele fará, etc.).
Exemplos: Far-me-ei; Fá-lo-ia
Nesse caso, não se pode colocar o pronome antes (nenhuma oração deve iniciar-se por pronomes oblíquos átonos) nem depois do verbo. Tem que ser no meio mesmo.
Outro detalhe: mesmo não sendo em início de frase, quando não existe ímã e o tempo verbal é um dos dois mencionados, também é possível intercalar o pronome.
Exemplo: Eu preferi-lo-ia mais bem passado (não há ímã, e o tempo é o futuro do pretérito.
Nesses casos podemos deixar o pronome no meio ou, preferivelmente, colocá-lo antes (“Eu o preferiria mais bem passado”). Errado seria colocar o pronome depois do verbo no futuro do pretérito ou do presente (Eu “preferia-o”).
Eu a amo ou Eu amo-a?
Tanto faz. Com os pronomes eu, tu, ele, nós, vós e eles, a colocação do pronome é facultativa (você escolhe se quer antes ou depois do verbo). Logo, Eu a amo e Eu amo-a estão corretíssimas.
O infinitivo isolado é outro caso opcional: “Sem ofendê-lo (ou Sem o ofender), eu gostaria de tirar uma satisfação”.
Tome cuidado para não colocar o pronome após particípios (forma em que o verbo, geralmente, termina em ‘do’, ‘to’ e ‘so’, como em cantado, vendido, dito, etc.).
Exemplo:
Tenho “dito-lhe” (errado);
Tenho lhe dito (certo).
E quando houver dois ou mais verbos?
Se esses verbos dependerem um do outro, essa será uma locução verbal, que é a união de um verbo auxiliar e um principal.
Exemplos: Todos querem dançar; Ele vai andando; etc..
Esse é um caso bastante simples. Se quiser ter a certeza de que sempre estará de acordo com a norma-padrão, é só deixar o pronome oblíquo átono sempre depois do principal, desde que este não esteja no particípio (o verbo principal sempre estará no infinitivo, gerúndio ou particípio).
Exemplos: Realmente não estamos entendendo-a; Ela quis dizer-me que está bem.
Se houver palavra atrativa (ímã) antes da locução, o pronome oblíquo poderá vir antes da locução ou depois do principal.
Exemplo: Realmente não A estamos entendendo ou Realmente não estamos entendendo-A.
Se não houver ímã algum, o pronome oblíquo pode, na prática, adotar qualquer posição, mas de preferência aquela que soar melhor ao escutá-la:
Exemplo:
Ela ME quis dizer que está bem;
Ela quis ME dizer que está bem;
Ela quis dizer-ME que está bem
As duas últimas construções soam de maneira mais natural; em se tratando de colocação pronominal em locuções verbais, quando houver mais de uma possibilidade, apele ao seu ouvido, ao som agradável).
Obs.: Antigamente se usava o hífen quando o pronome vinha depois do verbo auxiliar (Ela quis-me dizer). Hoje em dia, esse procedimento não é mais adotado comumente, apesar de ainda ser considerado correto. Além disso, mesmo nos casos em que há ímã antes da locução, tem sido aceita a colocação do átono no meio dela.
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