MODERNISMO NO BRASIL – Parte 1
O Modernismo no Brasil começou com a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, com o tempo suplantou os estilos anteriores.
Era marcado por uma liberdade de estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto. Outros modernistas importantes são o prosador Érico Veríssimo e o poeta Carlos Drummond de Andrade, que tem páginas próprias.
Jorge Amado
Jorge Amado nasceu em uma fazenda de cacau em Itabuna, Bahia, em 1912. Fez o curso primário em Ilhéus (com uma professora particular que se tornou personagem de Gabriela Cravo e Canela) e fez o secundário em um internato. Nessa época começou a ler autores ingleses e portugueses. Fugiu para a casa do avô no Sergipe e em 1927 matriculou-se num externato, onde ligou-se a Academia dos Rebeldes, grupo de jovens escritores contrários ao Modernismo.
Apesar disso, Jorge Amado é considerado modernista da segunda geração. Trabalhou em jornais e editoras, tendo fugido do país por perseguições políticas em 1935 e, após eleito deputado federal em 1945, teve seu mandato cassado em 1948 quando o PCB foi posto na ilegalidade. Deixou o país e viajou pelo mundo, recebendo um prêmio na união Soviética em 1951. Em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Sua obra, que já foi adaptada para várias mídias e traduzida para vários idiomas, é regionalista (trata sempre do NE, especialmente a Bahia) e é dividida em três fases: uma com maiores preocupações sociais, no começo da carreira, outra sobre o ciclo do cacau e outra ainda com maior lirismo.
Na primeira parte incluem-se Capitães de Areia e Mar Morto; na segunda Cacaus, Terras do Sem-Fim e São Jorge de Ilhéus; na terceira, iniciada com Gabriela Cravo e Canela (que apesar de se passar na zona do cacau não é sobre o ciclo do cacau em si), incluem-se Dona Flor e seus Dois Maridos, Teresa Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste. Jorge Amado é até hoje muito cotado para ganhar o prêmio Nobel de Literatura.
“Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacib, a estação das chuvas tanto se prolongara além do normal e necessário que os fazendeiros, como um bando assustado de medrosos, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros, o medo nos olhos e na voz” Gabriela Cravo e Canela
“E aqui termina a história de Nacib e Gabriela quando renasce a chama do amor de uma brasa dormida nas cinzas do peito.” Gabriela Cravo e Canela
” Lá estava Vadinho, no chão de paralelepípedos, a boca sorrindo, todo branco e loiro, todo cheio de paz e de inocência. Dona Flor ficou um instante parada, a contemplá-lo como se demorasse a reconhecer o marido ou talvez, mais provavelmente, a aceitar o fato, agora indiscutível, de sua morte. Mas foi só um instante. Com um berro arrancado do fundo das entranhas, atirou-se sobre Vadinho, agarrou-se ao corpo imóvel, a beijar-lhe os cabelos, o rosto pintado de carmim, os olhos abertos, o atrevido bigode, a boca morta, para sempre morta.” Dona Flor e seus Dois Maridos
“Eu sou o marido da pobre dona Flor, aquele que vai acordar a tua ânsia e morder o teu desejo, escondido no fundo do teu ser, de teu recato. Ele é o marido da senhora dona Flor, cuida da tua virtude, de tua honra, de teu respeito humano. Ele é tua face matinal, eu sou a tua noite, o amante para o qual não tens nem jeito nem coragem. Somos teus dois maridos, tuas duas faces, teu sim, teu não. Para ser feliz, precisa de nós dois. Quando era eu só, tinhas meu amor e te faltava tudo, como sofrias! Quando foi só ele, tinhas de um tudo, nada te faltavas, sofria ainda mais. Agora, sim, é dona Flor inteira como deves ser.” Dona Flor e seus Dois Maridos
Graciliano Ramos
Graciliano Ramos (1892-1953) pode ser considerado um dos mestres do Regionalismo. Suas obras passam-se no NE do Brasil e falam do povo nordestino, da seca, da realidade enfim, com uma linguagem direta e típica da região. Apesar de também Ter sido contista e cronista, é como romancista que se destaca.
Graciliano Ramos nasceu no interior do estado do Alagoas, mas sua família se mudou várias vezes, peregrinando pelo interior do Nordeste. Mais tarde mudou-se para o RJ e depois de volta a Palmeira dos Índios (AL), cidade onde realizou seus estudos. Lá casou, estabeleceu-se no comércio e chegou a ser prefeito da cidade.
Foi nessa época que foi descoberto como romancista: escrevera também o relatório que um editor desconfiara tratar-se de um romancista de gaveta. Estava certo: Graciliano Ramos estava escrevendo havia anos seu primeiro romance, Caetés, com o qual estrearia em sua carreira literária aos 41 anos (relativamente tarde).
Na mesma época de publicação do livro ele completou São Bernardo, primeira obra da trilogia que é sua obra-prima e inclui Angústia e Vidas Secas. Em 1936 foi acusado de comunista e mandado para a prisão, onde foi humilhado e maltratado (o fruto disso seria o livro de memórias chamado Memórias do Cárcere). Em 1945 ele realmente se filiou ao PC e chegou a visitar países além da Cortina de Ferro. Várias das obras de Graciliano Ramos já foram filmadas por consagrados diretores brasileiros.
Dyonélio Machado
Dyonélio Machado (1895-1986) nasceu em Quaraí, Rio Grande do Sul, e formou-se em Medicina em 1929 em Porto Alegre, sendo psiquiatra. Foi também jornalista, chegando a dirigir o jornal Correio do Povo, e deputado pelo PCB, mas foi destituído do cargo com a implantação do Estado Novo. Machado adquiriu notoriedade ao vencer junto com, entre outros, seu amigo Érico Veríssimo, o concurso da ABL em 1935. Machado era, aliás, amigo de muitos dos modernistas e se correspondia com eles, estando alinhado com a Geração de 30. Dyonélio foi o iniciador da prosa urbana gaúcha com o livro Um Pobre Homem. Sua obra de mais repercussão foi Os Ratos, mas também é importante O Louco do Cati entre sua obra.
“Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao ‘pega’ com leiteiro, Por detrás das cercas. Mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora, ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras ocasiões, quando era apenas a ‘briga’ com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima, dizia-lhe: ‘Olha que os vizinhos estão ouvindo’. Depois, à hora da saída, eram aquelas caras curiosaas às janelas, com os olhos fitos nele enquanto ele cumprimentava.” Os Ratos
“Ele vê os ratos em cima da mesa, tirando de cada lado do dinheiro – da presa! – roendo-o, arrastando-o para longe dali, para a toca, às migalhas!…” Os Ratos
Raul Bopp
Raul Bopp (1898-1984), gaúcho de Tupaceretã, foi poeta, ensaísta, diplomata e jornalista. Participou da Semana de Arte Moderna e foi muito influenciado pelos Andrade. Sua obra apresenta nacionalismo e construções gramaticais mais audaciosas, com linguagem tipicamente popular.
Clarice Lispector
Clarice Lispector (1925-1977), contista, cronista e romancista de destaque na literatura brasileira, não é brasileira nata: nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil ainda criança. Com 12 anos transfere-se do Recife onde morava para o Rio de Janeiro para cursar o secundário. Mas já escrevia antes disso: aos sete anos mandava contos ao semanário infantil.
Sempre recusados. Ainda estudante escreve seu primeiro romance (Perto do Coração Selvagem). Lispector tem um prosa introspectiva e intimista, que explora os caráter do ser humano e os conflitos interiores, com um estilo dramático e por vezes inteligentemente irônico. Além de vários romances como A hora da Estrela e A Paixão segundo G.H., Clarice escreveu contos.
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo.
Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente – é a minha própria dor, eu carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mias doida, inventada pelas nordestinas que andam aí aos montes.” A Hora da Estrela
“Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa morrer. Pelo menos ainda não consigo adivinhar se lhe acontece o homem louro e estrangeiro. Rezem por ela e que todos interrompam o que estão fazendo para soprar-lhe vida, pois Macabéa está por enquanto solta ao acaso como a porta balançando ao vento no infinito, Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.” A Hora da Estrela
Antônio de Alcântra Machado
Antônio Castilho de Alcântara Machado d’Oliveira (1901-1935) foi um importante escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas contemporâneos seus, usava uma linguagem em seus contos que se aproximava muito do falado.
Seus personagens de Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura muito peculiar de italiano e português. Machado nunca chegou a completar seu romance Mana Maria, que foi publicado um ano depois de sua prematura morte. Pouco antes do fim da vida rompeu relações com Oswald de Andrade por motivos ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de Andrade se estreitava.
“O primeiro serviço profissional de Bruno foi requerer ao exmo. snr. dr. Ministro da Justiça e Negócios Interiores do Brasil a naturalização de Tranquillo Zampinetti, cidadão italiano residente em São Paulo.” Brás, Bexiga e Barra Funda
Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho (1883-1935) foi um dos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Ensaísta e crítico, sobressaiu-se como poeta e declamador. Quando durante a Semana declamou a famosa poesia Os Sapos, de Manuel Bandeira, recebeu uma das maiores vaias de toda a apresentação. Em sua poesia abusava do verso livre, em contraposição a formalidade dos parnasianos.
Cassiano Ricardo
O paulista Cassiano Ricardo Leite (1895-1974) foi um dos líderes do Movimento Verde e Amarelo do início do Modernismo brasileiro. Ensaísta, jornalista e crítico, sobressaiu-se como poeta. Apesar do início parnasiano, chegou a ter influência concretista. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.
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