Que é Esclarecimento? pelo filósofo alemão Immanuel Kant
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O texto Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? foi escrito pelo
filósofo alemão Immanuel Kant em 1783, seis anos antes da Revolução
Francesa, movimento inspirado pelos ideais iluministas e que alterou o
quadro político e social da época. Com o lema “liberdade, igualdade e
fraternidade”, a revolução aboliu o regime absolutista e consolidou o
poder econômico da burguesia.
“O Iluminismo foi um movimento de
emancipação intelectual e política que marcou o século 18 em toda a
Europa. Nesse período, a ciência combate a superstição e há a constante
procura da liberdade política, que se opunha ao absolutismo. Foi,
enfim, uma época que fundou as bases da sociedade democrática moderna”,
descreve o professor Jair Barboza, que dá aulas de Filosofia na PUCPR.
Testemunha
dos acontecimentos revolucionários do período, Kant defende a
instauração do domínio da razão e da liberdade. No início de seu
ensaio, o filósofo define o que chama de imaturidade e expõe o conceito
de aufklaerung, termo alemão que pode ser traduzido por “iluminismo”,
“esclarecimento” ou “ilustração”.
“Kant vai dizer que o iluminismo é a
saída do ser humano da sua imaturidade (menoridade intelectual) e essa
imaturidade, para ele, significa a incapacidade de a pessoa servir-se
do próprio entendimento. O esclarecimento ocorre quando a pessoa tem a
coragem de ser crítica, isto é, de servir-se do próprio entendimento na
procura do conhecimento e de sempre examinar o que lhe é transmitido”,
afirma Barboza.
Segundo Kant, o próprio homem é culpado por sua imaturidade, porque,
podendo fazer uso do seu entendimento, deixa-se guiar por outras
pessoas, por preguiça ou covardia. O filósofo afirma que os homens
muitas vezes preferem pagar para que outros pensem em seu lugar. “Para
Kant, é muito cômodo ser imaturo, não se servir da crítica, porque
existe muita gente que faz isso por você.
E ele até ironiza, dizendo
que, se há livros que substituem o nosso entendimento, se há psicólogos
que cuidam da nossa consciência, se há médicos que cuidam da nossa
dieta, por que nos preocupar em adquirir tais conhecimentos? E aí há
uma preocupação sociológica de Kant. Para ele, as pessoas que não
conquistam o esclarecimento viram massa de manobra daqueles que fazem
uso utilitário de certos conhecimentos”, diz o professor.
De acordo com o filósofo alemão, o homem prefere entregar o seu
esclarecimento a tutores, que mostram aos seus “pupilos” o perigo que
os ameaça caso tentem “andar” sozinhos. O pensador diz que essa
intimidação é realizada por preceitos e fórmulas, e cita como exemplo a
atitude das autoridades religiosas que convocam a comunidade a crer sem
questionamentos. “Kant diz que a imaturidade religiosa é a mais
perniciosa de todas e isso torna o texto bastante atual, pois a nossa
época é marcada por várias formas de fanatismo religioso, e isso cega
as pessoas. As religiões podem infundir o medo e cegar os fiéis, que
passam a ser usados por alguns como ferramentas de poder”, afirma.
O professor explica que, para Kant, todo indivíduo vive uma situação
de menoridade no início do seu processo de formação, mas há uma hora em
que ele precisa se distanciar de seus mestres, analisando criticamente
o que dizem. “Nós precisamos de educação, só que há um momento da nossa
formação em que temos de nos servir do próprio entendimento. É mais ou
menos como um adolescente que em determinada época tem de sair de casa
para se virar na vida”, compara. Segundo Kant, os homens só atingem o
esclarecimento por meio do “uso público da razão”, que nada mais é do
que a liberdade de expressão. “Kant distingue o uso público do uso
privado da razão.
O uso privado é aquele que uma pessoa faz em uma
função que lhe foi designada. Um oficial, por exemplo, precisa obedecer
às regras que regem o serviço militar e, assim, faz uso privado da
razão. Só que, caso ele discorde da condução de alguma tática de
guerra, ele tem o direito de, diante de pessoas letradas, conhecedoras
do assunto, fazer o uso público da razão, ou seja, exercitar a
crítica”, afirma.
Na próxima semana a série sobre os cinco autores do programa de
Filosofia da UFPR termina com uma reportagem sobre Merleau-Ponty.
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